Paris, 9 de Março de 1808.
Como Sua Majestade o Imperador se dignou a autorizar-me a enviar um naturalista a Portugal para recolher nos gabinetes e jardins botânicos de Lisboa e de Coimbra objectos dos três reinos [animal, vegetal e mineral] que possam ser úteis ao Muséum d'Histoire Naturelle*, decidi confiar-vos esta missão.
Os votos dos vossos colegas e a confiança que vos outorgo fazem-me esperar que a cumprireis com todo o zelo que tendes.
Encontrareis inclusas, Senhor, as instruções segundo as quais deveis regular justamente todas as vossas operações. Envio uma cópia ao Senhor Governador de Portugal [Junot]. Convido-o a dar-vos todas as facilidades possíveis para que possais cumprir convenientemente a missão que vos é confiada.
Tenho a honra, etc.,
Instruções
1.º As investigações relativas às ciências e especialmente à história natural são o principal objectivo da missão do sr. Geoffroy. Assim, antes da sua partida para Portugal, recolherá todas as informações que lhe possam fornecer os seus colegas do Muséum e da primeira classe do Institut sobre os objectos e colecções que merecem mais particularmente fixar a sua atenção.
Como o Muséum d'Histoire Naturelle tem estado até agora privado de relações com o Brasil, é nas produções deste país que o sr. Geoffroy deverá preferencialmente fixar a sua atenção. Em geral, as suas escolhas focar-se-ão sobre as produções minerais, vegetais e animais de todas as espécies que faltem no Muséum d'Histoire Naturelle ou que não existam senão num grau de inferioridade pouco digno deste belo estabelecimento.
Assim, o sr. Geoffroy deverá trazer o magnífico bloco de cobre nativo das colecções da Ajuda** e a pedra magnética que está nas de Coimbra***, o espécime mais considerável e com mais energia que se conhece, etc.
Diz-se que o antigo governo depositou em alguns conventos e em diferentes épocas caixas [com objectos] de história natural e, em particular, uma colecção feita na costa de Moçambique; e o sr. Geoffroy fará todas as pesquisas convenientes a este respeito.
Se, como se assegura, existem na colecção de animais [ménagerie] do Príncipe uma avestruz de três dedos**** e um grande leopardo da África central, ambos vivos, e cuja existência é aqui problemática, o sr. Geoffroy poderia ordenar o seu transporte, dada a importância destes dois objectos, reunindo-lhes mais animais raros e muitas aves inexistentes na colecção de animais [ménagerie] do Muséum. Contudo, neste caso, tomará medidas para que tal transporte seja efectuado com os menores gastos possíveis.
O zelo do sr. Geoffroy pelo progresso das ciências naturais é demasiado conhecido para que seja útil instá-lo a aproveitar a sua estadia em Portugal para recolher as produções particulares [do país]. As pesquisas que se farão a este respeito terão assim o fim de enriquecer o Muséum d'Histoire Naturelle daquelas espécies de coisas que carece. A embocadura do Tejo é sobretudo célebre pela grande quantidade de peixes e moluscos que aí chegam, vindos de diferentes rios, ou do mar alto, no tempo da desova.
As plantas dos arredores de Lisboa são muito belas e muito variadas. O sr. Geoffroy tomará todas as medidas necessárias para obter do Museu as plantas que lhe possam faltar.
2.º Um segundo objectivo da missão do sr. Geoffroy é a recolha de informações sobre os livros e manuscritos, medalhas [entenda-se também moedas] e pedras gravadas, mapas, etc., que possam conter as bibliotecas e outros estabelecimentos públicos de Portugal.
Encontrará esses objectos nas bibliotecas da Corte, na Cartuxa de Évora, no mosteiro dos cónegos de São Vicente de Fora, no convento de São Francisco da cidade de Coimbra, e na casa do emigrado Duque de Cadaval.
As informações que mais particularmente se recomendam ao seu cuidado compreendem as viagens manuscritas dos navegadores e missionários portugueses nas diversas partes do mundo, sobretudo antes de 1500, bem como os mapas manuscritos, recaindo a sua atenção essencialmente nos portulanos que remontem à mesma época.
Deve existir em Portugal um grande número de memórias e de correspondências manuscritas sobre viagens nos arquivos públicos e nos depósitos dos mosteiros, sejam dos ex-Jesuítas, relativos às expedições marítimas, sejam dos Dominicanos, obtidos pelas missões. Recomenda-se que centre as suas pesquisas nas memórias muito antigas que devem existir sobre a Abíssinia.
Os mapas manuscritos devem-se encontrar nos mesmos depósitos. Supõe-se aqui que as ricas colecções de Vila Viçosa foram levadas [para o Brasil?]. Encontrará também mapas preciosos relativos a bosques e cobre. Tomará todo o cuidado em descobrir o que é feito dos mapas cujos Mouros se serviam para os seus cursos nos mares da Índia e da África.
Copiará, ou fará copiar, as inscrições latinas ou outras que veja nos diversos monumentos, e trará fac-similes. Coimbra apresentar-lhe-á uma grande colecção.
Recolherá tantas informações quanto lhe sejam possíveis sobre as medalhas púnicas, árabes, dos reis godos e outras cunhadas em Espanha [em toda a Península, entenda-se] e chamadas medalhas coloniais. Porém, é inútil que fixe a sua atenção nas medalhas imperiais cunhadas em Roma e que teriam sido enviadas para Portugal.
Se encontrar pedras gravadas, sejam que forem, tomará notas, indicando os respectivos assuntos.
Tentará obter catálogos impressos de livros portugueses, e, se possível, cópias dos catálogos das bibliotecas públicas, enviando-as para a Paris, a fim de que se possa examinar quais são aqueles que faltam na Biblioteca imperial.
Está convidado a prestar uma atenção particular sobre todos esses livros anteriores a 1500.
3.º As estátuas, baixo-relevos, quadros, etc., serão ainda um dos objectivos das pesquisas do sr. Geoffroy.
É possível que encontre em Lisboa e em Coimbra algumas produções de escultura antiga.
Em relação aos quadros, ainda que não tenham existido escolas portuguesas, os palácios e alguns estabelecimentos públicos podem conter obras de mestres portugueses que mereçam ser conhecidas fora do seu país.
Disposições gerais
O sr. Geoffroy está autorizado a fazer-se ajudar em todas as suas pesquisas pelas pessoas que lhe pareçam reunir conhecimentos relativos a qualquer um dos objectivos da sua missão. Mas será necessário que Sua Excelência o Governador Geral [Junot] reconheça e aprove esses assistentes.
Entenda-se que as pesquisas do sr. Geoffroy só deverão ser feitas nos estabelecimentos públicos. Quando lhe pareça que alguns objectos serão assinaladamente úteis para as colecções da França, o sr. Geoffroy pedirá a Sua Excelência o Senhor Governador Geral para tomar medidas de salvaguarda, através dum sequestro ou de outra forma, para que os objectos permaneçam em segurança até que se estabeleçam as medidas definitivas a tomar.
Depois de ter visitado cada estabelecimentos público, com o consentimento de Sua Excelência o Senhor Governador Geral, o sr. Geoffroy enviará duas listas de objectos que julgue, segundo estas instruções, que têm um particular interesse para a França. Uma dessas listas será remetida ao Senhor Governador Geral, a fim de ser munida com a sua autorização, e a outra será enviada directamente para nós.
As pesquisas do sr. Geoffroy sobre estes diversos pontos não devem passar da recolha de informações. Em nenhum caso retirará ou enviará estes objectos sem ordem especial de Sua Excelência o Governador Geral.
O senhor Geoffroy terá o cuidado de corresponder-se connosco com a maior frequencia possível, comunicando todos os detalhes necessários sobre os diversos objectivos da sua missão.
Dado em Paris, 9 de Março de 1808.
O Ministro do Interior,
Crétet.
[Fonte: E.-T. Hamy, "La mission de Geoffroy Saint-Hilaire en Espagne et en Portugal (1808). Histoire et documents", in Nouvelles Archives du Muséum d'Histoire Naturelle, Quatrième série - Tome dixième, Paris, Masson et C. Éditeurs, 1908, pp. 1-66, pp. 29-31].
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Notas:
* Mantivemos as referências ao Museu de História Natural de Paris conforme o seu nome original em francês.
* Mantivemos as referências ao Museu de História Natural de Paris conforme o seu nome original em francês.
** Este bloco, descoberto em 1782 no Brasil, e recolhido depois no Museu de História Natural da Ajuda, era então o maior exemplar de cobre nativo conhecido no mundo inteiro, e tornara-se famoso no estrangeiro sobretudo devido à publicidade que lhe tinha sido dada numa obra do naturalista alemão Heinrich Friederich Link, que estivera em Portugal entre 1797 e 1799. A referida obra, que teve bastante sucesso na sua época, e que ainda hoje pode considerar-se como uma referência, tinha sido publicada originalmente no ano de 1801, em alemão (Bemerkungen auf einer Reise durch Frankreich, Spanien, und vorzüglich Portugal), aparecendo estampada ainda no mesmo ano em inglês, um ano depois em sueco, e depois em francês. Segundo a tradução portuguesa, publicada mais de dois séculos depois, Link descrevia da seguinte maneira o dito bloco: "Extraordinário é o espécime de cobre puro aqui guardado [i.e., no Real Gabinete de História Natural na Ajuda], encontrado no Brasil, num vale a duas léguas da Cachoeira e a 14 léguas da Baía. Segundo Vandelli, o seu peso chega às 2616 libras, o comprimento máximo é de três pés e duas polegadas, a largura máxima de dois pés e meia polegada, e a espessura máxima de meio pé e quatro polegadas. A superfície é irregular, aqui e ali coberta de malaquite e ocre ferroso, de um lado tinha sido estupidamente polida e tinha gravada uma inscrição. Por aqui os mineralogistas poderão ver como esta peça é única no seu género" [Cf. Heinrich Friedrich Link, Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha, Lisboa, Biblioteca Nacional, 2005, p. 140]. Note-se que Link baseia parte da sua descrição desta peça de cobre num pequeno apontamento que o próprio director do Museu da Ajuda tinha anteriormente publicado [Cf. Domingos Vandelli, "Varias Observações de Chimica, e Historia Natural", in Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa - Tomo I (desde 1780 até 1788), Lisboa, Typografia da Academia, 1797, pp. 259-261, p. 261]. Porém, deve acrescentar-se que se nesse artigo Vandelli dizia que a peça pesava 2616 arráteis (cerca de 1.200 quilos), noutro manuscrito escreveu que a mesma pesava 2619 arráteis [Cf. "Memoria sobre o cobre virgem ou nativo da Capitania da Bahia, descoberto no anno de 1782", transcrição parcial in Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro - Vol. XXXII (1910), Rio de Janeiro, Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1914, ms. 11. 463, p. 551]. É certo que a diferença é mínima, mas noutro artigo, mais antigo, o mesmo Vandelli referira que o pedaço de cobre pesava 1.666 arráteis, o que, fosse como fosse, já era bastante considerável, "não havendo até agora outro de tão avultado peso em nenhum Museu da Europa" [Cf. "Memoria sobre algumas producções naturaes das Conquistas, as quaes ou saõ pouco conhecidas, ou naõ se aproveitam", in Memorias Economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa - Tomo I, Lisboa, Officina da Academia Real das Sciencias, 1789, pp. 187-206, p. 204]. Devido ao pedestal de mármore onde se embutiu esta peça, é difícil calcular-se actualmente qual seria o seu peso original.
Como mais adiante se verá, apesar do interesse de Geoffroy Saint-Hilaire nesta peça, Domingos Vandelli conseguiu fazer prevalecer as suas instâncias, segundo as quais este era precisamente o objecto mais importante do Museu da Ajuda, evitando assim a sua remoção para a França.
No 2.º Colóquio sobre «Discursos e Práticas Alquímicas» (Lisboa, 2000), esta pedra de cobre deu muito que falar, como se pode confirmar pelos textos publicados nas respectivas actas (Discursos e Práticas Alquímicas - Vol. II, Lisboa, Hugin Editores, 2003), que estão disponíveis online.
Como mais adiante se verá, apesar do interesse de Geoffroy Saint-Hilaire nesta peça, Domingos Vandelli conseguiu fazer prevalecer as suas instâncias, segundo as quais este era precisamente o objecto mais importante do Museu da Ajuda, evitando assim a sua remoção para a França.
No 2.º Colóquio sobre «Discursos e Práticas Alquímicas» (Lisboa, 2000), esta pedra de cobre deu muito que falar, como se pode confirmar pelos textos publicados nas respectivas actas (Discursos e Práticas Alquímicas - Vol. II, Lisboa, Hugin Editores, 2003), que estão disponíveis online.
Ver ainda, sobre este mesmo assunto, o artigo Relatório de uma missão no Brasil - A pedra de cobre nativo da Cachoeira, de Maria Estela Guedes; e o artigo O Gaio Método da mesma autora e de Nuno Marques Peiriço; e ainda uma entrevista a Orlins Santana, donde extraímos as seguintes fotografias, da autoria de Ana Luísa Janeira.
A aludida peça de cobre nativo, actualmente disposta no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa. | Pormenor da inscrição gravada no próprio cobre. |
*** Tratava-se do chamado "magneto chinês", uma poderoso pedra magnética oferecida pelo Imperador da China a D. João V, que foi posteriormente oculto numa armação concebida por um joalheiro e cientista escocês chamado William Dugood (ver as ilustrações abaixo). Deve notar-se que Dugood, que chegou a ser considerado na sua época como o melhor joalheiro da Europa, parece ter aproveitado bem o tempo que passou a fazer a dita armação, pois chegou a escrever uma dissertação sobre o magnetismo. Curiosamente, na sua passagem por Lisboa, Dugood fundou, em 1727 ou 1728, a primeira loja maçónica portuguesa, intitulada Hereges protestantes (como o nome indica, de tendência protestante) [Cf. Bruce B. Hogg & Diane Clements, Freemasons and The Royal Society - Alphabetical List of Fellows of the Royal Society who were Freemasons, London, 2010, p. 32].
Em 1768, o rei D. José I ofereceu esta pedra, juntamente com a sua armação, ao Régio Gabinete de Física Experimental do Colégio dos Nobres, onde leccionava o italiano Giovanni Antonio Dalla Bella, que, como Domenico Vandelli, viera para Portugal a convite do Marquês de Pombal (sendo anteriormente professor de Física Experimental na Universidade de Pádua). Quando pouco depois foram extintos os estudos científicos no Colégio dos Nobres, os objectos do Gabinete de Física Experimental passaram para a Universidade de Coimbra, onde Dalla Bella passou a leccionar, continuando as experiências que há já alguns anos vinha levando a cabo com esta e outras pedras magnéticas. Posteriormente, essas experiências viriam a ser amplamente descritas num estudo intitulado "Memoria sobre a força magnética", apresentado por Dalla Bella à Academia Real das Ciências de Lisboa em 1782 e publicado pela mesma instituição sete anos depois [Cf. Memorias Economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa - Tomo I, Lisboa, Officina da Academia Real das Sciencias, 1789, pp. 85-199].
Nesse estudo, Dalla Bella descrevia o aludido íman como "uma pedra de forma irregular, cujo volume tenho achado ser de 262 1174⁄4055 polegadas cúbicas; o seu peso é de 38 libras e 7 onças e ½; e a sua gravidade específica é 4055. A linha do seu meridiano é de 6 polegadas e 10 linhas; e a do seu equador é 8 polegadas e ½; pela parte inferior, em que estão os seus pólos, é esta pedra cortada e lisa, para poder armar-se como convém; o pólo austral dista do equador 4 polegadas e 7 linhas; e o setentrional 2 polegadas e 3 linhas" [id., p. 88].
Segundo as investigadoras Ermelinda Ramos Antunes e Catarina Pires, parece que algumas das conclusões deste estudo de Dalla Bella antecipam a definição da lei das acções magnéticas, "actualmente atribuída a Coulomb", quando, no entanto, os estudos deste "foram realizados três anos depois. Entre os autores que abordaram este assunto (Giovanni Constanzo, "Fisice italiani in Portogallo", in Relazioni storiche fra l'Italia e il Portogallo, Roma, Reale Accademia d´Italia, 1940-XVIII), destacamos o Professor Mário Silva ("A actividade científica dos primeiros directores do gabinete de Física que a reforma pombalina criou em Coimbra em 1772", in Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, vol. IX, n. 1, 1940) que, quando nas suas aulas ensinava esta lei, a atribui a dalla Bella. Rómulo de Carvalho ("A Pretensa Descoberta da Lei das Acções Magnéticas por dalla Bella, em 1781, na Universidade de Coimbra", in Revista Filosófica, n. 11, Set. 1954, p. 311) coloca reservas aos resultados obtidos por dalla Bella. A discussão deste assunto está fora da finalidade deste trabalho" [Fonte: Ermelinda Ramos Antunes; Catarina Pires, "O Gabinete de Física da Universidade de Coimbra", in Coleções Científicas Luso-Brasileiras: patrimônio a ser descoberto, Rio de Janeiro, Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2010, pp. 173-174. Ver ainda, sobre esta polémica, o artigo de Ricardo Monteiro, "Dalla Bella e a Lei das Acções Magnéticas", in Gazeta de Física (Volume 24 - fascículo 4), Lisboa, Sociedade Portuguesa de Física, Outubro/Dezembro de 2001, pp. 4-10; e ainda o artigo de João Silva "Sobre a Polémica acerca da Descoberta em Portugal da Lei das Acções Magnéticas"].
Apesar da relativa importância do chamado "magneto chinês", Geoffroy Saint-Hilaire viria a entreter-se de tal modo com as colecções dos museus de Lisboa e da Ajuda, que não chegaria a deslocar-se a Coimbra, e assim, este objecto não correu o risco de ir parar à França (ao contrário de milhares de outros), podendo ainda hoje ser visto nas valiosas colecções do Museu de Física da Universidade de Coimbra.
**** Tratava-se da então denominada thouyou, touyou ou avestruz da América, hoje conhecida, em português, como ema. Curiosamente, nesse mesmo ano de 1808, já após o regresso de Geoffroy Saint-Hilaire a Paris (depois de ter cumprido com sucesso a missão que lhe foi incumbida nestas instruções, inclusive no que diz respeito ao transporte para a França dum exemplar - ignoramos se vivo ou embalsamado - desta ave), os Anais do Museu de História Natural de Paris publicavam um artigo sobre esta ave, embora o seu autor se tivesse baseado num exemplar observado dois anos antes em Estrasburgo: F-L- Hammer, "Observation sur le Touyou ou Autruche d'Amérique (Struthio americanus. Lin.), faites à Strasbourg en janvier 1806", in Annales du Muséum d'Histoire Naturelle - Tome douzième, Paris, Chez Tourneisen fils, 1808, pp. 427-433. A gravura ao lado encontra-se precisamente no artigo citado.
Apesar da relativa importância do chamado "magneto chinês", Geoffroy Saint-Hilaire viria a entreter-se de tal modo com as colecções dos museus de Lisboa e da Ajuda, que não chegaria a deslocar-se a Coimbra, e assim, este objecto não correu o risco de ir parar à França (ao contrário de milhares de outros), podendo ainda hoje ser visto nas valiosas colecções do Museu de Física da Universidade de Coimbra.
Fonte: Carlota Simões, Paulo Gama Mota e Pedro Casaleiro, Museu da Ciência - Universidade de Coimbra (apresentação realizada no VIII Congresso Internacional de Cidades e Entidades do Iluminismo, Vila Real de Santo António, 2011). |
**** Tratava-se da então denominada thouyou, touyou ou avestruz da América, hoje conhecida, em português, como ema. Curiosamente, nesse mesmo ano de 1808, já após o regresso de Geoffroy Saint-Hilaire a Paris (depois de ter cumprido com sucesso a missão que lhe foi incumbida nestas instruções, inclusive no que diz respeito ao transporte para a França dum exemplar - ignoramos se vivo ou embalsamado - desta ave), os Anais do Museu de História Natural de Paris publicavam um artigo sobre esta ave, embora o seu autor se tivesse baseado num exemplar observado dois anos antes em Estrasburgo: F-L- Hammer, "Observation sur le Touyou ou Autruche d'Amérique (Struthio americanus. Lin.), faites à Strasbourg en janvier 1806", in Annales du Muséum d'Histoire Naturelle - Tome douzième, Paris, Chez Tourneisen fils, 1808, pp. 427-433. A gravura ao lado encontra-se precisamente no artigo citado.