quarta-feira, 9 de março de 2011

Aviso e proclamação distribuídos em Lagos durante a permanência dos franceses na cidade



AVISO


A França estabeleceu a sua revolução e criou a sua república com agradáveis programas de cumprimento dos direitos das gentes e das nações; mas a França, qual Ícaro atrevido, voou até regiões desconhecidas à sua natureza e, reduzidos a cinzas esses programas, fez tremer os mais sólidos tronos com o seu olhar.


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AO POVO PORTUGUÊS

Filhos da Pátria, Vosso Pai deixou-vos órfãos e obrigados a subsistir por vós mesmos. Os séculos da ignorância e do fanatismo passaram; formai a vossa liberdade sobre as bases da Natureza, guiada pela razão e pela virtude. Nobres! Lembrai-vos de vossos avós, pois que eles vos constituem em obrigação de nobreza, e lembrai-vos que esta nobreza que vos legaram é como a chama que se extingue, se lhe falta alento.
Guerreiros, uni vossas tropas hoje dispersas e sem ordem. Magistrados por via de quem os franceses têm operado, sede mais patriotas. Grande Deus! Teus juízos cheios de equidade nos sejam claros e tua clemência propícia.

[Fonte: Manoel João Paulo Rocha, Monographia - As forças militares de Lagos nas Guerras da Restauração e Peninsular e nas pugnas pela liberdade, Porto, Typographia Universal, 1909, pp. 172-173 (existe uma reedição pela editora Algarve em Foco, com o título Monografia de Lagos); Alberto Iria, A Invasão de Junot no Algarve, Lisboa, s. ed., 1941, p. 334 (Doc. 7)]. 


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Nota:

Ao publicar estes documentos originalmente em 1909, M. J. Paulo Rocha apresentou-os como produções anti-francesas, embora não mencionasse a sua autoria. Em 1941, Alberto Iria, a nosso ver erroneamente, atribuiu a sua autoria aos franceses (cf. op. cit., p. 16), supostamente no intuito de ganharem a confiança dos portugueses.