quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Carta do General Beresford e do Tenente-Coronel Proby ao General Dalrymple (7 de Setembro de 1808)




Lisboa, 7 de Setembro de 1808.




Senhor: 


Temos a honra de declarar que esta manhã tivemos novamente uma audiência de algumas horas com o General Kellermann, sobre os pontos relacionados com a devida execução do tratado, os quais foram por ele acedidos, à excepção daquele sobre a restituição da prata não cunhada em moeda; ele informou-nos ainda que o General em Chefe do Exército francês publicou uma ordem do dia ordenando que qualquer pessoa que tivesse em sua posse pinturas ou outros bens móveis, deveria devolvê-los imediatamente aos seus proprietários; e informou-nos que será devolvida qualquer coisa que ficar retida, se os proprietários o indicarem.
Em relação à prata em barras e não cunhada, tivemos uma longa discussão, algumas vezes acalorada, e o General Kellermann insistiu tenazmente, na maior parte das vezes, que a Convenção garantia-lhes tudo aquilo que estivesse na sua posse antes do primeiro dia de tréguas; e separámos-nos finalmente quando ele declarou da forma mais categórica que os franceses não cederão sobre este ponto. Expusemos-lhe as nossas razões para diferir da sua opinião, fundadas no artigo da Convenção que lhes limita a levar somente bagagens militares e pessoais, e naquilo que foi tratado entre o General Kellermann e o Tenente-Coronel Murray; sobre este último ponto, Kellermann declarou que apesar de ter assentido com a substância daquilo que refere o Tenente-Coronel Murray, não fazia nem podia fazer qualquer referência àquilo que [o exército francês] tinha recebido antes do começo das tréguas. Assim, como não conseguimos que o General Kellermann concordasse com o que nos parecia tão claro e razoável, partimos, não sem lhe declarar que o Comandante em Chefe britânico nunca consentiria com qualquer outra interpretação sobre a Convenção. 
Já escrevi a Vossa Excelência parte do que se passou na nossa entrevista, quando o General Kellermann anunciou que o General Junot consentia que, devido às queixas que fizemos sobre o facto dos depósitos de vários tipos estarem a ser dispostos duma maneira bastante inconsistente com o tratado, estes seriam todos postos no estado que estavam no começo das tréguas, racionando apropriadamente os gastos justos; que se deveria devolver tudo o que pertencia às casas, livrarias e museus reais, e todos aqueles que artigos que se tinham tirado a indivíduos, e que ainda permaneciam no país; e que consentiam em não levar para fora do país as barras da prata proveniente das igrejas, ainda que não reconhecessem qualquer obrigação para fazê-lo, segundo o tratado; que pagariam as dívidas do exército com tal prata, o que sempre tinha sido expressamente o seu planeado fim; e que, se depois de pagarem as suas dívidas restasse alguma prata, esta seria devolvida. Respondemos que como isto não era propriamente o que tínhamos sido instruídos a requerer, não poderíamos dar qualquer resposta, mas iríamos transmitir a proposta a Vossa Excelência, o que temos agora a honra de fazer; e o General Kellermann, declarou que se a isto não se acedesse, ele próprio dirigir-se-ia, amanhã de manhã, ao Quartel-General de Vossa Excelência. Devemos reconhecer que pareceu-nos que, segundo a Convenção, mal podemos pedir mais; porém, submetemos isto a Vossa Excelência, requerendo ordens sobre o assunto.
Temos a honra de ser os mais obedientes e humildes servidores de Vossa Excelência,


W. C. Beresford, Major-General.
Proby, Tenente-Coronel.