quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Carta do General Murray ao General do Exército Português (7 de Setembro de 1808)





No campo em S. Marcos [a sul do Cacém], 7 de Setembro de 1808.




Acabo de receber a carta para o sr. [D. Domingos António] de Sousa [Coutinho]*, e Vossa Excelência pode contar que ela será enviada pelo primeiro correio que se destinará à Inglaterra; dou-vos mil graças, meu General, pela confiança por me haverdes informado do seu conteúdo.
O Oficial a quem haveis tido a bondade de emprestar um cavalo acaba de me escrever que o enviou de volta ontem de manhã, que apenas o tinha retido porque não tinha ninguém para confiá-lo, e esperava que os dois Exércitos [português e britânico] se juntassem; acrescenta que a sela rompeu-se na primeira vez que a montou, e que queria repará-la antes do seu regresso; ele tem vergonha de o ter retido tanto tempo e pede mil desculpas, e espera que estas razões serão suficientes para que Vossa Excelência o desculpe. 
Deu-me bastante prazer saber que Vossa Excelência recebeu explicações do General Dalrymple sobre o Tratado, as quais vos tranquilizaram.
Vossa Excelência pode convencer-se que as intenções do General eram boas, e ademais sei que as ordens do nosso Governo são as mais positivas ao considerar como seu primeiro objecto a honra e os interesses do Príncipe e de Portugal. Aqui entre nós, estou convencido que a vontade que o General tinha de que o nosso Exército estivesse livre para agir noutro lugar foi um dos motivos mais poderosos que o levaram a apressar a conclusão do Tratado.
Provavelmente, meu General, tereis a resposta do vosso ofício de ontem durante o dia de hoje.
Como os corpos debaixo das minhas ordens estão actualmente [dispostos] em linha, fui encarregado de vos agradecer e devolver ao vosso Quartel-General os Dragões que estão comigo. Reenvio quatro, mas se Vossa Excelência o permitir, reterei ainda seis durante alguns dias, a fim de vos enviar as cartas destinadas a Vossa Excelência que me possam ser remetidas.
Disseram-me que os franceses pediram transportes para 27.000 pessoas. Não serve de nada iludir-nos, e parece que a sua força é muito maior do que pensávamos. 
Tenho a honra de ser, com a maior consideração, o criado mais humilde e obrigado de Vossa Excelência,

Murray


[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. II, 1931, pp. 3-77, pp. 47-48 (doc. 90)].

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Nota:

* Apesar da aludida carta não se encontrar publicada (ao que nos conste), julgamos que a mesma deveria incluir o protesto que Bernardim Freire de Andrade escreveu contra a Convenção depois chamada de Sintra e/ou a memória do mesmo general sobre o mesmo assunto.