terça-feira, 23 de agosto de 2011

Extracto duma carta de um Ajudante de Campo do Exército português (23 de Agosto de 1808)


Lourinhã, 23 de Agosto.

O General Kellermann, acompanhado de dois esquadrões de Cavalaria, chegou ontem ao Vimeiro, Quartel-General do Exército inglês, para tratar com o General em Chefe uma capitulação; mas a negociação foi-lhe deferida para hoje, e o Excelentíssimo Bernardim Freire agora partiu para o dito Quartel-General para efectuar-se a pedida capitulação.
Esta deliberação do General Junot foi tomada depois da grande acção que houve no dia 21 do corrente entre o seu Exército e o Exército combinado; e não obstante todas as instruções militares que o General Junot aprendeu do Grande Napoleão, com que queria ensinar os portugueses a vencer, mas de cujas lições não quis agora aproveitar-se, ou de que já estaria esquecido; e não obstante, além disto aparecer de surpresa ao Exército inglês, foi batido, perdendo seguramente acima de 2.000 homens entre mortos e feridos, 2 Generais prisioneiros, que se diz serem Laborde e Brenier; e não se sabe com certeza se Loison foi morto; perderam 22 peças com as suas competentes munições. 
Nas duas acções que tem havido, calcula-se a perda dos franceses 4.000 homens, muito considerável sem dúvida para um Exército de 11.000 homens.
Os grandes guerreiros que têm aterrado a Europa estão tão possuídos do medo, que já fogem como galgos. O forte do Exército estava a 3 quartos de légua do Exército inglês para cair sobre a retaguarda do inimigo, o que não foi preciso; porque a boa posição que tomou o nosso General os intimou de modo que não ousaram dar ocasião a serem atacados.

[Fonte: Minerva Lusitana, n.º 27, 27 de Agosto de 1808].