Recebemos a carta que Vossa Excelência nos fez a honra de remeter pelo emissário encarregado da condução das armas, que Vossa Excelência já na sua primeira carta nos ofereceu, secundando a mesma oferta na outra que pelo mesmo emissário nos foi enviada; e como, segundo Vossa Excelência ajustou com ele, tem já decorrido o tempo aprazado de oito dias, dentro dos quais Vossa Excelência prometeu enviar-nos o armamento, caso que até então chegasse; e como este continua a ser-nos necessário, e supomos que Vossa Excelência já o terá recebido, mandamos novamente, na forma que se ajustou com Vossa Excelência, esse emissário buscar as 400 armas, 8.000 balas e as pistolas e espadas que Vossa Excelência puder dispensar.
Acresce a isto a nova requisição que fazemos a Vossa Excelência de pólvora, o que sem dúvida não exigiríamos se estivéssemos de posse da que tínhamos, que eram dezassete barris, os quais por precaução pusemos a bordo da fragata Comus, que aqui estava, donde Vossa Excelência a poderá receber caso que a dita fragata aqui não volte, remetendo-nos agora a que puder, pois igualmente nos é de suma necessidade.
Rogamos a Vossa Excelência que haja de enviar-nos, quanto antes, ou a mesma ou qualquer outra fragata, a qual servirá não só de animar este povo e suas vizinhanças, que ficaram sumamente sentidos quando a viram sair deste porto, mas até de pôr freio a alguma incursão do inimigo, que, segundo nos consta, tem chegado em grande número a Setúbal, tendo até assestado peças no castelo de Palmela.
Esperamos de Vossa Excelência quanto lhe pedimos, pela grande falta que temos de tudo, não esquecendo a Vossa Excelência a pólvora, por ser artigo da primeira necessidade.
Deus guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Sines, em Junta do Governo de 23 de Julho de 1808.
Fr. Eusébio da Estrela, Secretário da Junta.
[seguiam-se as assinaturas do Presidente e dos Deputados].
[Fonte: José Accursio das Neves, Historia Geral da Invasão dos Francezes em Portugal, e da Restauração deste Reino - Tomo V, Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1811, pp. 41-43].