domingo, 19 de junho de 2011

Notícia publicada no National Register de Londres (19 de Junho de 1808)



[...] Não temos razões para mudar as opiniões que expusemos no nosso último número sobre o socorro da Espanha*. Sir Arthur Wellesley, ao que parece, irá comandar uma expedição para auxílio da Espanha. As tropas que ele irá comandar encontram-se em Cork. São compostas pelos Regimentos de Infantaria a pé n.os 5, 9, 38, 40 e 91; pelo 3.º batalhão do Regimento n.º 69, e pelo 4.º batalhão dos Veteranos Reais. O Major-General Hill será o segundo no comando, sob o qual estarão os Generais-Brigadeiros Fane e Crauford. 

Não podemos olhar mais para o emprego destas forças sem denunciar uma grande inquietação. A Inglaterra sempre foi bastante rápida a interferir em qualquer disputa continental e a derrubar um império que descontentasse uma província. Mas como a informação da determinação dos ministros em enviar aquele exército para a Espanha não foi tornada pública, nenhuma opinião decidida pode ser formada acerca da sua conveniência. A sagacidade e a prudência deve ter bastado para dirigir as nossas medidas para auxílio dos espanhóis; não estamos certamente obrigados pela honra, pois nem temos aliança nem confiança com a Espanha. 



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Nota:

* No número anterior deste semanário londrino, depois de relatar a chegada à Inglaterra dos dois nobres espanhóis enviados pela Junta das Astúrias (ver uma notícia e uma carta do Capitão John Hill a George Canning sobre este assunto), referia o redactor o seguinte: 

Os nossos leitores lembrar-se-ão que a partir do primeiro momento em que chegaram as notícias da mudança de circunstâncias da Espanha, considerámos como infundadas as esperanças daqueles que, a partir de tais alterações, foram induzidos a daí esperar vantagens para a causa da Grã-Bretanha ou da Europa em geral. Parece agora que os nossos Ministros, animados pelo pedido dos dois nobres acima mencionados, estão determinados a enviar ajuda para os desafortunados habitantes da Espanha. Esta questão já excitou uma fermentação considerável neste país - ou melhor, os editores dos periódicos aproveitaram a ocasião para excitar a fermentação. Um partido, os amigos dos Ministros, exaltam a liberalidade e sabedoria do Governo, enquanto os aderentes da oposição condenaram em alguns jornais a administração pelo seu atraso. Pela nossa parte, conservamos as nossas opiniões originais, e não sentimos inclinação para aprovar a conduta dum partido ou do outro. Sentimos que é do nosso dever fazer o nosso protesto contra as medidas, que circulam confidencialmente, através das quais os nossos Ministros têm a intenção de prestar auxílio ao povo de Espanha. A história de todas as eras e de todos os países proporciona milhares de provas do quão pouco pode fazer uma população, armada na emergência dum momento, contra veteranos alicerçados na coragem e disciplinados por experiência. Não é contudo necessário remeter para provas distantes, e procurar os registos da antiguidade para os antecedentes da nossa conduta: encontram-se antecedentes nas recordações de todos nós; abundam antecedentes na narração dos eventos que se seguiram à Revolução Francesa; os antecedentes vivem nas nossas memórias, e agem ainda sobre os nossos sentimentos. O estado da Europa, a queda de todas as coligações continentais, a destruição de todas as vãs esperanças sustentadas por anteriores Ministros, a matança dos nossos soldados, o peso das nossas taxas, são estes os antecedentes que chocam com o exemplo deles, sendo tremenda a sua pressão! Devemos enviar para Espanha, segundo se diz, cinco ou dez mil homens. Mas, em nome da prudência, que bem pode ser efectuado por cinco ou dez mil homens? Não serão eles cortados como erva? Estarão aptos para opor resistência por um momento, face às numerosas legiões que Bonaparte pode enviar contra eles? Não há nenhuma região intermédia hostil através da qual as tropas francesas tenham que passar para entrar na Espanha; a linha de comunicação é fácil e directa, e miríades de homens podem deslocar-se a qualquer parte, bastando uma palavra. Enviamos o nosso pequeno exército para uma chacina certa. Mas mesmo supondo que os Ministros determinem enviar para a Espanha uma força realmente grande e operativa, qual deverá ser a consequência? As nossas costas ficarão completamente indefesas; e Bonaparte, vendo toda a nossa força empregue num serviço estrangeiro, poderá conseguir uma oportunidade, doutra forma quase desesperada, de invadir estas ilhas, e, como tememos, de invadi-las com sucesso. A sua superioridade em números tem pouca vantagem contra nós enquanto as nossas tropas regulares continuem em casa, porque a força regular, se for organizada por uma população devidamente disciplinada, é suficiente para agir contra um exército invasor, que necessariamente deve ser incapacitado ao se levar ao mesmo tempo um vasto número de homens para aquela zona;  mas quando as nossas tropas regulares forem removidas, Bonaparte estará em condições para se opor a elas no estrangeiro, com um poder igual ou maior do que o que elas possuem, e para enviar outro exército de não menor magnitude contra estas ilhas, que então estarão completamente indefesas. Nestas circunstâncias, qualquer acaso do tempo que afaste a nossa marinha dos seus postos, deixar-nos-á totalmente expostos ao vigor militar dos nossos invasores.
Quanto mais contemplamos o conjunto de circunstâncias na Espanha, com menos terreno ficamos para racionalmente esperarmos uma vantagem. Exércitos pequenos perecem. Exércitos grandes, na Espanha, rodeados de habitantes de diferentes partidos e opostos a um inimigo de bravura e perícia infinitas, lutarão com perspectivas pouco brilhantes de sucesso; e entretanto a Inglaterra fica exposta. Não nos falem em generosidade. A auto-defesa é uma virtude bastante fundamental para a generosidade. Que o Governo poupe o povo inglês, em vez de se apressar para ajudar os espanhóis. Não é este o tempo para que a Grã-Bretanha pegue em lanças e se ponha a galope, com um quixotismo político, defendendo qualquer nação fraca ou tola que, tendo na prosperidade perdido toda a credibilidade para se aliar com a Grã-Bretanha, julga que na adversidade pode lançar-se na misericórdia britânica. Esperamos que a desgraça dos ingleses nunca seja oprimir os infelizes; mas nem a necessidade e nem a honra dizem para se reparar os estragos que a insensatez fez na sua própria cobertura.
[Fonte: The National Register, London, n.º 24, June 12, 1808, pp. 378-379].