[Londres,] Quarta-feira, 8 de Junho.
Às 7 horas da manhã vieram ao Almirantado dois fidalgos espanhóis, o Visconde Matarrosa* e D. Diego de la Vega, acompanhados pelo Capitão Hill, vindos de Espanha num navio armado em guerra denominado Stag, e desembarcaram em Falmouth; tendo vindo para bordo daquele navio num bote que os tomou em Gijón, na província das Astúrias. Ofereceram 500 guinéus pela passagem para Inglaterra e a inteligência que trouxeram é de grande importância: estavam em Madrid quando houve o levantamento a 2 de Maio, dizem que mataram 4.000 franceses, compreendendo muitos Oficiais. Intentaram fugir depois do levantamento, apressaram-se em vir para a província das Astúrias, a qual deixaram em 30 de Maio. Afirmam que em toda a Espanha reina o espírito de indignação contra os franceses, mas muito principalmente nas províncias das Astúrias e Galiza; esta última está num estado de levantamento tal que até as mulheres, esquecendo-se da timidez e delicadeza do seu sexo, animam os homens com vozes e exemplo a tomarem armas contra os invasores. Toda a província das Astúrias se vai levantando, e já tem em pé um Exército de 40.000 homens.
Não há falta de armas mas sim de munições, o que nós esperamos [que] lhes seja imediatamente fornecido pelo nosso Governo. Astúrias deu o exemplo de resistência e despachou comissários à Galiza convidando o povo a levantar-se de concerto com eles.
Mr. Hunter, cônsul britânico, foi preso por ordem de Murat em Madrid, e mandado para Santander para ali ser lançado numa prisão, mas o povo que aí se levantou imediatamente o libertaram, pondo o cônsul francês em seu lugar na prisão. Então se proclamou a declaração de guerra contra os franceses em Santader.
Estes fidalgos dizem que não duvidam que a Biscaia e Catalunha já tenha seguido o exemplo das Astúrias e Galiza, e que em breve tempo toda a Espanha esteja contra os franceses. Não trouxeram inteligência alguma de Cádis, nem o Governo a recebeu. Tal é a narração destes dois fidalgos de distinção de grande honra.
Não se pode duvidar que este país tem agora ocasião de poder fazer alguma coisa. Pensamos que não será impolítico oferecer à Espanha todo o socorro que estiver em nosso poder, publicando a nossa vontade de fazer paz com eles, declarando que não pretendemos opormo-nos ao seu Governo interno, e que o nosso único objecto é concorrer para eles se libertarem da tirania da França. E apesar de qualquer oposição e de nos dizerem que os irlandeses católicos que estão em Cádis hão de evitar que os espanhóis aceitem as ofertas do nosso Governo, nós estamos certos que eles se fiarão em quaisquer promessas do Governo inglês.
[Fonte: Não conseguimos encontrar a versão original desta notícia, provavelmente publicada em algum periódico inglês da época. A versão acima transcrita deriva dum manuscrito disponível no Arquivo Histórico Militar: 1.ª div., sec. 14, cx. 287, doc. 09, fls 3-4; o Correio Braziliense de Junho de 1808 também publicou (na p. 78) uma notícia do mesmo teor].
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Nota:
* Tratava-se de José María Queipo de Llano, nomeado vogal da Junta Geral das Astúrias. Ficaria futuramente mais conhecido por Conde de Toreno, título com que assinou os cinco volumes da sua Historia del levantamiento, guerra y revolución de España (publicada originalmente em 1832).