Monsenhor [Monseigneur]:
Vossa Excelência anunciou-nos que os regulamentos actuais do exército já não permitem se usem os meios anteriormente empregados para custear as despesas das missões semelhantes àquela que haveis proposto confiar ao senhor Geoffroy, um de nós, e cujo objectivo é ir recolher nos gabinetes de Portugal os objectos dos três reinos [animal, vegetal e mineral] que possam ser úteis aos nossos.
Nestas circunstâncias, pensamos que Vossa Excelência pode fixar uma soma por cada dia de viagem e outra por cada estadia diária. Parece-nos que 12 francos por dia de viagem e 24 francos por estadia diária serão suficientes. A primeira soma é aquela que se dá aos Inspectores de Estudos em viagem. Em relação à duração da estadia, parece-nos que deverá ser cerca de dois meses e meio ou três meses, atendendo que ele precisa visitar não só os estabelecimentos de Lisboa, mas também os da Universidade de Coimbra e os que podem existir nas moradias reais.
As despesas de embalagens e de transportes devem ser calculadas em separado e dependerão da quantidade de objectos. Como não se retirará senão o que se considere ser indispensável, tais despesas não poderão ser muito grandes. Vossa Excelência verá assim que a totalidade destas despesas dificilmente chegarão a dez ou doze mil francos, o que é uma soma bem pequena em comparação com os objectos que conseguiremos obter através desta missão, tanto quanto podemos julgar desde já, segundo as noções incompletas que dispomos. Os minerais e os animais do Brasil e da costa de África reunidos no Gabinete Real, bem como as plantas das mesmas zonas cultivadas nos jardins, são, como nos garantem, duma raridade e beleza incomparáveis.
Rogamos a Vossa Excelência, etc...
[Fonte: E.-T. Hamy, "La mission de Geoffroy Saint-Hilaire en Espagne et en Portugal (1808). Histoire et documents", in Nouvelles Archives du Muséum d'Histoire Naturelle, Quatrième série - Tome dixième, Paris, Masson et C. Éditeurs, 1908, pp. 1-66, p. 6].
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Nota:
Emmanuel Crétet somente voltará a pronunciar-se sobre esta missão a 17 de Fevereiro de 1808, ao declarar aos administradores do Museu de História Natural de Paris (certamente depois de receber a autorização de Napoleão) que os custos da viagem e da remuneração de Geoffroy Saint-Hilaire e do seu assistente seriam suportados "pelos fundos relativos a despesas imprevistas do ano de 1808", enquanto que as despesas relacionadas com a embalagem e com os transportes do material, apesar de também custeadas pelos mesmos fundos, seriam calculadas à parte. Nessa mesma missiva, Crétet instava os administradores do Museu "a apressar a partida do seu enviado", que deveria "apresentar-se ao Ministro do Interior para obter uma comissão e os fundos para a sua viagem".
Apesar da aparente pressa, Crétet só viria a remeter as instruções oficiais a Geoffroy Saint-Hilaire, sobre a sua missão a Portugal, a 9 de Março. Por outro lado, Saint-Hilaire tardaria ainda até ao dia 20 do mesmo mês para partir de Paris.