quarta-feira, 20 de julho de 2011

Notícias publicadas na Gazeta de Lisboa (20 de Julho de 1808)



Lisboa, 20 de Julho


Anunciam diversas cartas de Badajoz e seus arredores que era ali mui vivo o desassossego entre os chefes dos rebeldes, por terem recebido de Madrid a notícia de que um corpo de tropas francesas se adiantava para aquela vila, a fim de dar auxílio ao exército de Portugal. Este boato, apesar do cuidado com que se procurava encobri-lo, transpirou entre o povo, o qual clamava já que se via cercado e entre dois fogos, o que não pode deixar de acontecer-lhe, mais cedo ou mais tarde. Algumas pessoas chegavam a dizer que o dito corpo se tinha já avistado nos contornos de Trujillo. 

Alguns indivíduos, em violação do decreto do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes em data de 5 de Abril, persistiam em manter comunicação com a esquadra inglesa; e outros, em levar-lhe mantimentos. Por vezes se lhes advertiu, com ameaça, que pusessem termo a um tráfico tão criminoso e tão arriscado, a não quererem expor-se às penas as mais severas; prevaleceu porém o engodo de um lucro miserável. Conseguintemente, 4 dos ditos indivíduos foram presos na Trafaria, ao tempo que voltavam; e não puderam negar o seu delito. Outros indivíduos do mesmo género existem na outra margem do Tejo; mas são conhecidos, e sobre eles se vigia, de maneira que tampouco poderão escapar, se continuarem a proceder assim. Em breve se deve decidir, de um modo exemplar, a sorte dos que já estão presos.

Como é melhor atalhar o mal que puni-lo, cumpre dar a saber aos inventores de fábulas absurdas e aos distribuidores de notícias extravagantes que algumas das lojas de bebidas que lhes serviam de ponto de reunião se mandaram fechar, os dias passados, por não haverem [os] seus donos tido a resolução nem de fazê-los calar nas conversações em que ali entravam, nem de ir denunciá-los à polícia, segundo a ordem que para isso tinham, e como o fazem prudentemente vários outros.
Também foram chamados alguns dos que espalham imposturas nas sociedades e nos lugares públicos, uns para serem admoestados severamente, e outros para estarem alguns dias reclusos nos cárceres da Inquisição que foi, a fim de aprenderem ali a haver-se com mais reserva tanto nas conversações como nas suas correspondências com os países inimigos ou revoltados.
Ninguém por certo deve ser responsável pelo conteúdo das cartas que recebe, ainda quando cheguem por vias clandestinas, se bem que então se fazem naturalmente suspeitas. Pode-se porém evadir este inconveniente com facilidade, e ficar livre de toda a exprobração, indo sinceramente comunicar à Autoridade competente as cartas que chegam, ou seja de países inimigos ou de partes momentaneamente revoltadas, quando anunciam alguma coisa que interesse o Governo.

Era de notar, havia já algum tempo, que as bandeiras ou estandartes postos nesta cidade às portas de certas tavernas, estanques ou lojas de bebidas, se multiplicavam mais que de costume; e que em algumas partes se variavam as cores destas insígnias de um modo tão equívoco que podia indicar lugares de maus ajuntamentos ou ainda de prostituição.
Portanto, os Corregedores e Juízes do Crime dos 13 bairros de Lisboa foram encarregados de mandar logo tirar os ditos estandartes, que são pelo menos inúteis, pois que as inscrições pintadas e escritas sobre as portas das lojas para designar o seu objecto bastam em todos os países. Aqueles que, 48 horas depois da ordem do Comissário do bairro, não tiverem feito desaparecer as ditas insígnias de que a malevolência poderia tirar partido para convocar os seus cúmplices, serão punidos: a primeira vez por uma multa, e a segunda, mandando-se fechar a casa onde se tiver cometido a contravenção.

Por uma Ordenança de Polícia publicada com data de 9 de Abril [...] passado, se tinha proibido que se deixasse vagar pelas ruas ou praças públicas boi ou vaca alguma que não fosse conduzida seguramente, de sorte que ficasse atalhado todo o desastre. Por 2 dias sucessivos, porém, escaparam e se introduziram nas ruas algumas vacas bravas que, decorrendo a praça do Rossio, fizeram com que corresse risco a seguridade dos pacíficos cidadãos que por ali passeavam. Uma delas até feriu perigosamente um indivíduo. Portanto foi apanhada de ordem do Senhor Conselheiro do Governo, Intendente Geral da Polícia do Reino; entregue aos soldados franceses e portugueses dos dois postos que concorreram para ter mão nela, e vendida logo por eles em seu benefício.
É de esperar que este exemplo, que não será o único, se as mesmas contravenções se renovarem, coíba aqueles que estão no hábito de deixar o seu gado andar errante pelas ruas de Lisboa.

[Fonte: 1.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 28, 20 de Julho de 1808].