Publicamos abaixo três desenhos de autor anónimo com referências aos editais de 1 de Fevereiro, extraídos de uma série de dezassete composições alusivas à primeira invasão francesa e aparentemente compostas ainda antes da segunda invasão. Segundo Ayres de Carvalho, "o autor dos desenhos, que nalguns casos não só pela maneira como os executa, como também pelas críticas escritas, lembra o pintor e cronista deste período Cirilo Wolkmar Machado (1748-1823) que, ao contrário de Domingos António de Sequeira, nunca, segundo declarou, teve entendimentos com os invasores" [Ayres de Carvalho, Catálogo da Colecção de Desenhos, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1977, p. 26].
O aspecto caricatural destes desenhos é salientado pelas suas legendas sarcásticas, onde o autor insere colagens de frases suas com excertos de proclamações e decretos, algumas vezes subvertidas pela sua descontextualização, como se nota sobretudo no caso do primeiro dos desenhos abaixo inseridos.
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Saque de 40 milhões de cruzados
Junot, o pérfido Junot, em recompensa dos muitos obséquios que voluntariamente lhe fizeram em Portugal,
dignou-se de atormentar os Portugueses com o tributo de 40 milhões de cruzados.
Napoleão o grande tomou debaixo da sua omnipotente protecção. [...]
Este benefício devemos à actividade e boa direcção do General em Chefe.
Pastoral do Bispo Inquisidor, 22 de Dezembro de 1807.
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Protecção própria de Junot
Não satisfeito o ímpio Junot do tributo por ele imposto de 40 milhões de cruzados, acrescenta que as igrejas sejam também saqueadas pelo direito da força com que as despojou.
Todo o ouro e prata de todas as igrejas, capelas e confrarias serão conduzidos à Casa da Moeda.
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Profanações dos Templos.
Os abomináveis soldados de Napoleão mancham sacrilegamente os templos de Deus com execráveis insultos, desprezam as santas imagens, partem-nas e as lançam no fogo e....
A religião de vossos pais, a mesma que todos professamos....
será protegida e socorrida pela mesma vontade.
Junot, Edital 1 de Fevereiro de 1808.
Grande socorro, grande protecção para a religião, lançarem as imagens sagradas no fogo.
Bela frase.
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Ver ainda, a respeito destes desenhos, a recensão de Maria da Graça Garcia, "Governo de Junot em Portugal", in Tesouros da Biblioteca Nacional.