Segundo Brito Aranha, "quando se espalhou pelo povo em 1808 o decreto para a contribuição forçada dos 40 milhões, e ao mesmo tempo Junot dizia numa proclamação, para lisonjear o povo, de que em cada terra haveria um Camões para cantar as glórias portuguesas, logo apareceu quem compusesse as seguintes décimas à fanfarronada do General francês. [...] Parece que esta glosa é do poeta António José Xavier Monteiro, que teve sonetos impressos alusivos à invasão dos franceses. Estas décimas não sei se foram impressas ou manuscritas":
MOTE
Eu vos venho proteger
Haverão muitos Camões
Resgatai os vossos bens
Dai-me quarenta milhões.
GLOSA
Dessa traidora nação
Em astúcias infernal,
Para roubar Portugal
Vem aqui muito ladrão:
Vejam bem o figurão,
Para a maldade esconder,
Para nos empobrecer
'Inda mais talvez que Job,
Que nos dissesse Junot:
Eu vos venho proteger.
Isto disse o descarado,
E estendeu-se muito mais,
Prometeu romper canais
E ter dos pobres cuidado;
Um Camões assinalado
Promete aos altos Beirões;
Dizendo co'os seus botões:
Se este engano o povo come,
No artigo morrer à fome
Haverão muitos ladrões.
Na costumada carreira
Após um volve outro mês,
E já não pode o francês
Disfarçar a ladroeira:
Então com voz lisonjeira
Afectando mil desdéns,
E dando-nos parabéns
Da francesa ocupação,
Diz: Da parte do sultão
Resgatai os vossos bens.
Assolou, roubou cidades,