terça-feira, 9 de agosto de 2011

Carta do Tenente-Coronel Nicholas Trant ao General Bernardim Freire de Andrade (9 de Agosto de 1808)




Coimbra, 9 de Agosto de 1808.


Meu General:

O Coronel [do Regimento de Milícias de Chaves] Luís Maria reconhece que, segundo os relatos dos desertores*, os quais foram por ele mesmo inquiridos, os franceses não passaram Rio Maior ontem, ou melhor, no Domingo [7 de Agosto].
Ele perde assim demasiado tempo caso tenha a intenção de ocupar Leiria, dado que nos últimos três ou quatro dias continuaram a surgir rumores da aproximação [dos franceses]; porém, eu cá não creio em tudo o que chega de tão a norte. 
No total, ele não tem mais de 5.000 homens que pode actualmente dispor em plena campanha; e ficai seguro, General, que ele está empregado presentemente em operações defensivas, ou mais precisamente, que empreendeu uma invasão dessa vizinhança. As tropas que ele espera em Rio Maior são aquelas que chegaram há pouco a Alcobaça ou um reforço que se envia de Santarém ou de Lisboa à fortaleza de Peniche.
Em todo o caso, como será necessário que na jornada de hoje se envie um correio a Lavos, não se poderá esperar que um destacamento inglês chegue a Leira um dia antes, contando sobretudo com o adiamento de um dia que foi proposto pelo nosso Exército. Os ingleses encontrar-se-ão naquela cidade na manhã de Sexta-feira [12 de Agosto], e é necessário esperar por essa chegada; ou se pensais que há razões para crer que o inimigo caminha seriamente para Leiria, um destacamento de Cavalaria deverá ser enviado antes de Pombal para Leiria, na noite de hoje, com ordem para se postar a uma meia légua do outro lado da cidade, de maneira a poder dar aviso da aproximação do inimigo, e enquanto espera pelo Coronel Luís Maria de Sousa, poderá tomar as medidas necessárias para assegurar o depósito de víveres, fazendo-o retirar para Venda de Galegos, onde algumas das vossas tropas encontrar-se-ão reunidas amanhã, ou, se preferirdes, 300 homens de Infantaria podem avançar de Pombal durante esta noite, os quais poder-se-ão manter seguramente em Leiria até que as vossas tropas ou as dos ingleses se unissem em seu socorro, pois não penso que o inimigo que se fala remonta a mais de 1.000 ou 5.000 [homens].
Tenho a honra de ser, General, vosso muito humilde,


Trant


[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, pp. 170-171 (doc. 7)].

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Nota: