sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Carta do Capitão William Warre a remetente desconhecido (19 de Agosto de 1808)



Lourinhã, a 12 milhas a sul de Peniche, 19 de Agosto de 1808.


Tenho apenas tempo de vos dizer que estou bem e em perfeita segurança. Tivemos uma acção muito disputada anteontem, numa forte posição na Roliça, perto de Óbidos. No início, os franceses estavam solidamente posicionados na planície, e depois retiraram-se para uma montanha quase inacessível. Mas o que pode resistir à valentia dos nossos bravos camaradas? Eles subiram a montanha expostos a um fogo tremendo, e impeliram os inimigos a retirarem-se para várias milhas de distância, matando um grande número e tomando duas peças de canhão. O nosso exército perdeu cerca de 500 homens, entre mortos e feridos, e uma proporção muito grande de oficiais. O 29.º Regimento foi o que sofreu mais, tendo perdido 19 oficiais entre mortos e feridos, estando o Coronel (Lake) no número dos primeiros. O 9.º [Regimento] também sofreu, e o meu pobre amigo Stuart foi ferido gravemente, e receio que venha a morrer. Morreu o Capitão Bradford, do 3.º Regimento de Guardas [escocesas], e um Tenente, R. Dawson, um camarada bastante bravo. A nossa brigada, tendo sido enviada para girar sobre a direita, chegou muito tarde, e pouco participou na acção. Perdemos uns poucos homens – 5 ou 6 – e o pobre Capitão Geary da artilharia, depois de ter disparado 4 tiros sobre o inimigo no mais perfeito estilo. 
Os franceses combateram com a máxima bravura, e a sua retirada honra o seu carácter militar. Eles eram muito inferiores a nós em números, e foram inicialmente comandados por Laborde, que, segundo se diz, está gravemente ferido, e depois por Junot, que chegou de Lisboa, apesar da sua coluna não ter chegado a tempo. Todas as contagens apontam que as suas baixas são perto de 1.000 homens. A ordem do dia agradece aos Regimentos n.os 9, 29, 5 e aos corpos de caçadores pela sua nobre conduta. Apesar de obrigados de vez em quando a trepar com as mãos e pés, nada pôde travar a sua impetuosidade. Coitado do Stuart, que ao cair chamou os seus oficiais para verem que o seu jovem regimento cumpria o seu dever, e não para se preocuparem consigo. Pobre e querido amigo, receio que acabe por morrer.
Marchámos para este lugar ontem, a fim de proteger o desembarque das tropas comandadas pelo General Anstruther, e acabámos de receber ordens para avançar em direcção a Lisboa.
Os franceses retiraram-se, durante toda a noite da acção, pela estrada nova. Desejava que os tivéssemos perseguido, mas confio em Sir Arthur Wellesley.
Até agora tivemos uma marcha bastante incómoda debaixo do sol, e temos sofrido muito devido ao calor, apesar de todos estarmos com saúde e muito animados. Daremos aos franceses umas boas bofetadas onde quer que os encontremos, e em 3 ou 4 dias estaremos em Lisboa vitoriosos...