Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:
Tenho por certo que esta [carta] vai aparecer a Vossa Excelência em marcha para Lisboa; não posso ocultar-lhe o cuidado que me aflige bastante, se terão esses malditos cortado ou minado as estradas para Lisboa; não estou livre de cuidado a respeito de franceses pelo norte, porque diferentes cartas de Espanha concordam em que andam doze a treze mil homens no Reino de Leão, e na Junta daquele Governo tem havido alguma desordem por causa de traidores, dos quais um já se acha preso. Para Lamego marchou o Regimento de Basto e para Amarante dois Esquadrões de Braga, para poderem com mais brevidade acudir onde convier. Agradeço muito a Vossa Excelência o mimo das suas muito eloquentes proclamações*, que espero [que] sejam muito úteis para animar os nossos aflitos lisboetas; se eles fizerem como os matritenses [=madrilenos], bem estamos. Na ida de Sebastião Correia [Superintendente da Alfândega do Porto] não há dúvida alguma, senão uma resposta que ele espera de Vossa Excelência. Tenho em toda a consideração uma carta que recebi do Sr. Nuno Freire, e responderei como o caso pede.
Deus guarde a Vossa Excelência muitos anos.
Porto, 13 de Agosto de 1808.
De Vossa Excelência muito atento venerador e obrigado,
Bispo Presidente Governador
[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 176 (doc. 12)].
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Nota:
* Alusão às duas proclamações que Bernardim Freire de Andrade tinha mandado publicar dias antes: a primeira, de 10 de Agosto, dirigida aos soldados do Exército francês, e a segunda, datada do dia seguinte, dirigida aos soldados do próprio Exército português.