Lisboa, 8 de Julho
O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor General em Chefe, acompanhado do seu Estado-Maior e do General de Laborde, Comandante-Superior de Lisboa e dos fortes em torno, visitou ontem o castelo, os diferentes parques de artilharia, o arsenal, os quartéis e os estabelecimentos militares nesta capital. Sua Excelência, sem embargo de não ser esperado, achou tudo na melhor ordem; e só teve que dar louvor àqueles que precedentemente incumbira dos trabalhos e disposições relativas às circunstâncias, dando em especial indícios de aplaudir os aditamentos feitos às fortificações do castelo, exprimindo ao mesmo tempo assim o voto como a esperança de não ter que servir-se disso, porque a cidade de Lisboa, onde se acaba de completar o desarmamento com o melhor sucesso, nunca esteve mais tranquila, nem mais longe de toda a ideia de agitação e de movimento.
Nos postos militares que o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes sucessivamente decorreu, por espaço de várias horas, foi acolhido, tanto pelo oficiais como pelos soldados, com aquele entusiasmo que tão bem justificam as gloriosas memórias que o rodeiam, e com aquela ingénua afeição e cordial confiança que seriam um penhor seguro da vitória, se alguns inimigos quaisquer que fossem reduzissem um exército numeroso, aguerrido e contente da sua sorte, à necessidade de pelejar e de vencer.
Havendo-se manifestado em Tomar um princípio de insurreição, os frades e a mais vil canalha foram os únicos que tomaram parte nesta revolta. Os habitantes honrados daquela vila porém se deram pressa a dirigir ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes a carta seguinte:
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor:
Motins populares excitados pelo fanatismo, que em todos os tempos se tem servido da ignorância para os seus malvados fins, obrigaram a nobreza e povo de Tomar a fazerem actos contrários ao governo estabelecido por Sua Majestade Imperial e Real. Mas actos feitos por força são nulos; e logo que cessa a força, há obrigação de assim o declarar. Isto é o que fazemos, suplicando a clemência de Vossa Excelência para com aqueles que foram alucinados com opiniões falsas, segundo as determinações de Vossa Excelência, pois que os que foram forçados diante da justiça de Vossa Excelência estão livres; e se do agrado de Vossa Excelência for que a este respeito e para instrução do povo se afixe alguma proclamação, fá-lo-emos em cumprimento das ordens de Vossa Excelência, de quem temos a honra e glória de ser, etc.
Súbditos reverentes,
Fr. Teotónio Cláudio da Costa Pereira, Ouvidor Eclesiástico – O Padre José Antunes da Silva – O Beneficiado Fr. Miguel Eduardo Azevedo Sampaio – O Padre Joaquim Roberto da Silva – O Padre Francisco Delgado da Gama – O Padre João Freire Gameiro – O Provedor da Comarca, Bartolomeu de Faria Pimentel Cabral Maldonado – Custódio Jacome Raimundo de Moura – O Vereador segundo, que serve de Juiz de Fora, Gaspar de Seixas da Costa Nogueira de Velasco – Francisco Valentim de Castro Araújo – José António Ferreira dos Reis – Manuel de Sousa Fernandes – António Pedro da Maia – Silvério António da Graça e Silva – Feliciano Lopes dos Santos – José Urbano da Costa – António Joaquim de Moraes Albuquerque – José Teixeira Madureira – José Lopes Canhaos – Tomé da Silva – O Juiz do Povo, em nome do mesmo, António de Évora
Sua Excelência ordenou ao General [Margaron] que marcha para Tomar, que distinguisse aquela vila da cidade de Leiria, que quis persistir no seu criminoso delírio, e que por isso recebeu o castigo merecido, como igualmente Beja e Vila Viçosa. A mesma sorte está reservada a todas as povoações que ousarem revoltar-se.
[Fonte: 1.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 27, 8 de Julho de 1808].