A sempre fiel, nobre e valorosa vila de Guimarães, que tem a honra de ser o berço dos seus primeiros Reis e da nobreza do Reino, em todo o tempo da sua existência se tem confiantemente mostrado digna desta singular prerrogativa. Ela foi a primeira das cidades e vilas da sua província a quebrar animosamente os duros ferros da escravidão francesa na tarde do sempre memorável dia 18 de Junho deste corrente ano de 1808, e sem rebuço, e com o mais decidido entusiasmo e valor gritou Vivas e aclamações aos nossos legítimos Soberanos, à nossa liberdade e Santa Religião, passando logo a render graças ao Altíssimo, cantando-se uma devota ladainha a Nossa Senhora da Oliveira; formando-se uma solene procissão com os retratos de Sua Majestade [a Rainha D Maria I], do Príncipe Regente Nosso Senhor e da Princesa Nossa Senhora, levados debaixo do pálio pelas primeiras dignidades do Cabido, tremulando na frente da dita procissão os estandartes Reais, e sendo ela dirigida pelas ruas mais públicas, no meio dos magistrados, clero, nobreza e imenso povo, e recolhendo-se à Colegiada, onde se cantou Te Deum laudamus entre lágrimas de alegria.
Ela se distinguiu nos dias seguintes, marchando os seus habitantes às margens do Douro a perseguir a divisão francesa, comandada pelo ímpio e sanguinário Loison, de que muitos dos mais esforçados com valor e coragem própria de almas grandes, o foram bater até à Cruz da Camba, mais confiados na protecção e amparo da Senhora da Oliveira sua patrona, do que nas poucas e ferrugentas armas que levavam, fazendo aclamar a Restauração do suavíssimo Governo do Príncipe Regente Nosso Senhor em todas as vilas, cidades e povoações por onde passavam.