Lisboa, 13 de Maio
Houve receio de que as comunicações pelos caminhos entre Portugal e Espanha sofressem embaraço, em consequência dos criminosos excessos a que a plebe de Madrid se entregara a 2 deste mês, e do justo castigo que se lhes seguiu. Este receio porém em breve se dissipou pela chegada de correios, assim civis como militares, os quais entre notícias que deixam desvanecida toda a inquietação sobre o estado das coisas em Espanha, e sobre o pronto restabelecimento da tranquilidade na capital, nos trouxeram uma pela de ofício que deve encher de regozijo a todos os verdadeiros portugueses.
Circulavam entre nós, havia vários dias, esperanças gratas sobre as disposições magnânimas que Sua Majestade o Imperador e Rei se dignara de manifestar à deputação deste Reino. Cada um porém as interpretava a seu modo, chegando-se até a misturar com elas alguns boatos absurdos. Hoje fica dissipada toda a incerteza de futuro, podendo cada um desde já ver o que algum dia será este Reino, se os seus habitantes, pelo espírito de prudência e de submissão que os anima, continuarem a merecer que o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, seu amigo tão firme como iluminado, dê sempre um bom testemunho do seu comportamento ao augusto Árbitro dos Reis e dos Povos.
A própria deputação portuguesa, composta das personagens as mais consideráveis do nosso país, é que foi encarregada por Sua Majestade de nos anunciar nos termos seguintes as suas intenções e os nossos destinos.
[seguia-se a carta da deputação aos portugueses e depois o texto de Junot alusivo ao mesmo documento]
Consta-nos que enquanto os outros membros da deputação portuguesa se puseram em caminho de Bayonne para Bordéus, o Senhor D. Lourenço de Lima, antigo embaixador de Portugal em França, foi autorizado para ficar em Bayonne junto de Sua Majestade, a fim de fornecer-lhe sobre as instituições deste país as notícias que Sua Majestade possa desejar, e de receber também de mais perto as suas ordens.
A própria deputação portuguesa, composta das personagens as mais consideráveis do nosso país, é que foi encarregada por Sua Majestade de nos anunciar nos termos seguintes as suas intenções e os nossos destinos.
[Fonte: 1.º Supplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 19, 13 de Maio de 1808].