quarta-feira, 16 de março de 2011

Carta-circular do Tesoureiro da Inquisição aos Inquisidores da Corte de Portugal (16 de Março de 1808)



No dia cinco do corrente mês mandou Sua Excelência o Excelentíssimo Senhor Bispo Inquisidor Geral convocar a Conselho extraordinário os Senhores dele, e sendo os mesmos presentes, lhes fez constar não só o Aviso que havia recebido do General em Chefe e Governador destes Reinos, Mr. Junot, mas também o competente passaporte, que com o mesmo Aviso lhe havia sido remetido para seguir a sua jornada até Bayonne, em observância das ordens do Imperador e Rei, em cuja cidade se havia [de] achar no dia dez do seguinte mês, com outros muitos fidalgos e pessoas públicas deste Reino, que receberam iguais Avisos; e que na sobredita cidade encontrarão as ordens do Ministro do Interior para seguirem o seu destino.
Por este motivo considerou Sua Excelência que recaía o Governo Superior das Inquisições deste Reino, pela sua ausência, no Conselho, e com expressões da maior ternura se despediu dos Senhores dele com a satisfação do acerto e prudência com que haviam governar, afiançada pelo zelo que sempre tinha observado no exercício dos seus empregos, e com efeito partiu Sua Excelência desta Corte no dia dez pelas onze horas da manhã, embarcando para Aldeia Galega [=actual Montijo], deixando-nos não só cheios de saudades, mas também de afectuosos desejos de que torne ao exercício do seu emprego com saúde, brevidade, e mais gostoso do que vai.
Pareceu-me que devia participar a Vossas Senhorias esta notícia para saberem a quem, durante a mesma ausência, devem dirigir os ofícios, e pedir as providências do que for necessário a respeito dos objectos do seu Ministério.
Também sou mandado dizer a Vossas Senhorias que no Conselho de ontem resolveram os Senhores dele que, suposta a urgência geral e suas circunstâncias, para que caminham não só as rendas do Conselho, mas também as das Inquisições na parte em que delas se derivam, se festejasse no presente ano o Senhor São Pedro Mártir somente com uma missa de cantochão, sermão e ornato preciso e decente do Altar em que se celebrasse o sacrifício.
Deus Nosso Senhor guarde a Vossas Senhorias.
Lisboa, 16 de Março de 1808.

Manuel Correia da Fonseca

[Fonte: Caderno 15º de Ordens do Conselho Geral (da Inquisição), fls. 172-172v (in Arquivo Nacional da Torre do Tombo, código de referência: PT/TT/TSO-IL/027/0162)].