No dia 8 de Fevereiro de 1808, o senado da Câmara de Faro reuniu-se para remeter uma carta de repreensão ao Cabido da Sé, em virtude deste ainda não ter preparado alojamento decente para quinze oficiais estrangeiros (que julgamos que fossem franceses) que eram esperados na cidade. A mesma Câmara intimava assim o Cabido a obedecer a esta ordem, sendo que, em caso contrário, seriam os mesmos membros daquela corporação religiosa obrigados a alojar nas suas próprias casas esses estrangeiros. Vejamos então a transcrição da referida carta, que se encontra nas actas da Câmara de Faro disponíveis no Arquivo Histórico-Militar, e cujo transcritor refere que "não consta das actas seguintes qualquer resposta do Cabido, nem providências tendentes ao alojamento dos 15 oficiais esperados ou tropas do seu comando":
Il.mo e Rev.mo Sr. Cabido:
Considerando-se madura e seriamente neste Senado o arranjo que Vossa Senhoria tem preparado para o alojamento de quinze oficiais da tropa estrangeira que se espera, e [como] sem dúvida que nem as casas da Fábrica nem os locais são lugares para [o] referido alojamento, nem tão pouco os quartos onde estão as camas nas casas da propriedade do Il.mo Sr. Conselheiro Horta* têm suficiência alguma para o dito fim, não correspondendo nada nem à dignidade de Vossa Senhoria nem ao carácter dessa oficialidade, sem reflectir que cada um dos alojados se deve considerar como em casa adequada a um dos particulares que constituem a Corporação do mesmo Il.mo Cabido. Portanto, o mesmo Senado participa que não sendo o dito aquartelamento na forma referida com toda aquela decência que a mesma oficialidade pede, o que assim deve estar pronto à chegada da mesma tropa, então passará a aquartelar por casa de cada um dos mesmos Senhores Capitulares aquela oficialidade que corresponder, visto que tanto tempo que tem havido sem o ter dado a providência necessária que se ofertara, e isto com a decência e gravidade correspondente a uma Corporação tão nobre como é o Il.mo e Rev.mo Cabido.Deus Guarde a Vossa Senhoria.Faro, 8 de Fevereiro de 1808.
[Fonte: Arquivo Histórico Militar, 1.ª div., 14.ª sec., cx. 186, doc. 24].
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* [Nota do transcritor]: “Onde está hoje o Governo Civil – dos Condes de Alte. A Ermida da Senhora do Ó era capela do Palácio”.
Desenho de Luís Filipe Rosa Santos, baseado numa gravura do século XVIII
Antiga Praça da Rainha (actual Praça D. Francisco Gomes), podendo ver-se ao centro a Ermida de Nossa Senhora do Ó (com o arco da porta da vila),
e imediatamente à direita, no rés do chão, a cadeia de Faro, e no primeiro andar, as referidas casas do Conselheiro Horta Machado, futuro primeiro Conde de Alte.
e imediatamente à direita, no rés do chão, a cadeia de Faro, e no primeiro andar, as referidas casas do Conselheiro Horta Machado, futuro primeiro Conde de Alte.
Fonte: Almanaque Republicano
Postal de inícios do século XX, já depois da reforma da ermida e da reconstrução do palácio dos Condes de Alte,
que, desde finais do século XIX até aos nossos dias, continua a albergar a sede do Governo Civil de Faro.