quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Baile de 6 de Janeiro na casa do Barão de Quintela

Tal como tinha ocorrido no dia 13 de Dezembro de 1807, "no dia 6 de Janeiro [de 1808] deu o General Mr. Junot um pomposo e magnífico baile no mesmo Palácio do Quintela e Quartel da sua residência. Foram convidados os membros do Governo da Regência, toda a grandeza do Reino, muitos tribunalistas e o Almirante russo, menos o Intendente Geral da Polícia [Lucas de Seabra da Silva]. Todo o preparo para o mesmo baile, armação, música e ucharia, sem excepção da menor despesa, foi feita à custa do Barão de Quintela, que, sem embargo desta bizarria, foi convidado por um bilhete do mesmo modo que o foram os demais convidados estranhos; não sendo também convidada a irmã do mesmo Barão, que se achava residindo na Quinta das Laranjeiras, ao mesmo tempo que o foi a Condessa da Cunha, que se acha com ela morando na mesma Quinta.

Os bilhetes gerais que se distribuíram para os convites foram pela forma e modo que se segue, que é a cópia de dois bilhetes originais de que me fizeram presente uma família da minha amizade, que também foram convidados.


1.º Bilhete para o Pai de Família

O Governador de Paris, Primeiro Ajudante de Campo de Sua Majestade o Imperador e Rei, General em Chefe dos Exército francês, espanhol e português

Convida ao Sr. Duarte Joyce para lhe fazer a honra de vir passar a tarde em sua casa no dia quarta-feira 6 de Janeiro pelas oito horas da noite. 
Há de haver dança. 

Em 3 de Janeiro. 
Pede-se resposta.



2.º Bilhete dirigido à Família

O Governador de Paris, Primeiro Ajudante de Campo de Sua Majestade o Imperador e Rei, General em Chefe dos Exército francês, espanhol e português

Convida a Sr.ª Duarte Joyce e as suas filhas para lhe fazer a honra de vir passar a tarde em sua casa no dia quarta-feira 6 de Janeiro pelas oito horas da noite. 
Há de haver dança. 

Em 3 de Janeiro. 
Pede-se resposta.



É notável o que se lê na cabeça destes bilhetes, não só pelo seu estilo e exótico formulário, mas pelo peso dos títulos, muito mais carregado do que mesmo nos Decretos que fazia expedir, onde nunca declarou ser General em Chefe dos Exércitos espanhol e português.
Um semelhante estilo decorrente mostra que aquele General se entusiasma em extremo com os títulos dos seus cargos; visto que nem nestes casos os dispensa, assemelhando-se a um cavalheiro espanhol de quem se conta blasonar tanto dos seus brasões, que até nos palitos mandava pôr as suas armas".

_________________

[Nota: Todo o texto que acima se publica é uma cópia de Domingos Alves Branco Muniz, Memoria dos Successos acontecidos na Cidade de Lisboa..., fls. 47-48]