Lisboa, 7 de Maio
Segundo as últimas notícias de Baiona [sic], Sua Majestade o Imperador e Rei continuava a estar naquela cidade, onde parecia dever em breve reunir consigo a Família Real de Espanha, como também um certo número de Grandes daquele Reino que se encaminham para a mesma destinação.
É um belo e novo espectáculo na Europa o ver um Monarca que, chegado ao cume da glória e do poder, consente em se dar por árbitro entre um pai e um filho que enchem há vários meses a Europa das suas acusações recíprocas, e põe assim os povos numa espécie de incerteza de qual dos dois é aquele a quem devem obedecer. Cumpre esperar o resultado daquele nobre arbítrio, o qual vai mostrar às nações que a sua causa não tornará a ficar abandonada às intrigas e aos caprichos de alguns cortesãos, que de ordinário se ocupam mais em disputar entre si a autoridade do que em assegurar o bom êxito das combinações úteis ao bem da humanidade.
Ao mesmo tempo, o Príncipe da Paz, cometido pelas autoridades espanholas a 600 dragões franceses encarregados de defendê-lo da indignação de um povo, à custa do qual soube acumular o mais escandaloso cabedal, que dizem deita a mais de 500 milhões de libras turnezas, se vê, por outra parte, conduzido para França. O acto da entrega diz que ele não pode jamais tornar a entrar em parte alguma dos domínios de Sua Majestade Católica.
Pelas ordens cuja execução confiou o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes ao Intendente Geral da Polícia do Reino, é já de notar muito maior asseio nas ruas de Lisboa, dum grande número das quais se vão também tirando os entulhos que as obstruíam; e está quase destruída a multidão de cães que de dia e noite andavam pela cidade e interrompiam a quietação.
Sua Excelência o General em Chefe também deu ordem para que se desembaraçasse a magnífica Praça do Comércio do grande número de barracas de pau que a empachavam, de sorte que se possa por ela passear sem obstáculo. Já se deu princípio aos preparativos necessários para este efeito.
A cidade de Lisboa continua a gozar do maior sossego. Entre os habitantes e a guarnição, assim francesa como espanhola, reina a melhor inteligência. O povo sabe que o Governo, em quem tem posto tanta confiança como se existissem há largos anos, procede com toda a vigilância para acudir às suas precisões; e entrega-se ao seu trabalho com tanta seguridade como o fazia nas circunstâncias passadas as mais pacíficas.
[Fonte: Segundo Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 18, 7 de Maio de 1808].