Porto, 1 de Setembro de 1808
Senhor:
Lamento muito ver, através da carta de Vossa Excelência do dia 24 do mês passado (a qual tive a honra de receber na noite passada), que tive a desgraça de excitar o vosso descontentamento, e não perco tempo para rogar-vos para estardes convencido de que as vossas ordens serão obedecidas mais estritamente; e que, no caso de que me cheguem instruções do Governo [britânico], pretendo não agir segundo as mesmas sem antes ter recebido as vossas ordens.
O Bispo do Porto sabe que não recebi quaisquer instruções, tanto da vossa parte como do Governo [britânico]. Tudo o que se passou entre nós, em relação à sua renúncia, foi apenas considerado como um assunto privado, ainda que, da parte do Bispo, houvesse a intenção destas conversações servirem de meio para que as suas ideias fossem transmitidas a vós. Se nas cartas que tive a honra de vos escrever encontram-se propostas que não são referidas como tendo sido feitas pelo Bispo, tal se deve ao seu desejo de não se mencionar o seu nome para não se dar a entender que ele quer continuar à cabeça do Governo; mas o certo é que todas as propostas e observações foram sugeridas ou pelo próprio Bispo ou pelo seu secretário; e Vossa Excelência pode estar seguro que o Bispo não recebeu da minha parte qualquer insinuação que pudesse dar-lhe esperanças que vós ou o nosso Governo querem que ele continue à frente do Governo temporário.
É verdade (como tive a honra de vos referir na minha carta de 18 de Agosto) que não tinha quaisquer instruções para responder às primeiras comunicações do Bispo; e talvez ele tenha tomado em consideração se não seria mais aconselhável resignar no momento presente; mas eu estava então convencido que o Bispo era o único homem que tinha alguma influência sobre a mente deste povo inculto, que estava num estado de revolução; e considerei que a mera ideia do Governo ser retirado do homem que o povo tinha escolhido para seu líder, poderia conduzir às mais fatais consequências para a causa comum. Tinha todas as razões para me esforçar em ganhar a confiança do Bispo, e não poderia, por isso, de deixar de vos transmitir os seus desejos; e, além do mais, ao não ter eu assumido qualquer autoridade, ficou completamente nas vossas mãos agirdes segundo a vossa vontade. As brilhantes façanhas do exército debaixo do comando de Vossa Excelência alteraram bastante o estado das circunstâncias. A ordem pode agora ser facilmente restaurada, ao passo que tal seria difícil enquanto o país fosse um teatro de guerra; e a necessidade de obedecer, pelo menos aparentemente, à vontade do povo que tomou as armas, ficou certamente removida em grande parte.
Ao ter o Bispo declarado que não pode deixar o Porto, e, portanto, que não pode fazer parte do Governo se o assento deste não for transferido para esta cidade, fica completamente nas mãos de Vossa Excelência a justa pretensão de se excluir o Bispo do Governo; dando o Governo à antiga Regência ou àqueles membros da mesma que achardes mais próprios. Peço licença para acrescentar que, desde há uns dias, o Bispo parece estar consciente de que o assento do Governo não será transferido para esta cidade, e que, consequentemente, deverá resignar. Apesar de não o conhecer suficientemente para formar uma opinião decidida, ainda assim atrevo-me a dizer que ele está muito ligado aos interesses do seu Soberano para usar a sua grande influência contra o Governo que Vossa Excelência achar que será o mais próprio para se nomear, com a excepção de diversos membros da antiga Regência, que ele acusa de serem do partido francês.
Brigadeiro General
[Fonte: Memoir, written by General Sir Hew Dalrymple, Bart., of his proceedings as connected with the affairs of Spain, and the commencement of the Peninsular War, London, Thomas and William Bone Strand., 1830, pp. 292-294].