quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Carta do Brigadeiro-General Frederick von Decken ao General Hew Dalrymple, Comandante do Exército britânico em Portugal (1 de Setembro de 1808)



Porto, 1 de Setembro de 1808


Senhor:

Lamento muito ver, através da carta de Vossa Excelência do dia 24 do mês passado (a qual tive a honra de receber na noite passada), que tive a desgraça de excitar o vosso descontentamento, e não perco tempo para rogar-vos para estardes convencido de que as vossas ordens serão obedecidas mais estritamente; e que, no caso de que me cheguem instruções do Governo [britânico], pretendo não agir segundo as mesmas sem antes ter recebido as vossas ordens. 
O Bispo do Porto sabe que não recebi quaisquer instruções, tanto da vossa parte como do Governo [britânico]. Tudo o que se passou entre nós, em relação à sua renúncia, foi apenas considerado como um assunto privado, ainda que, da parte do Bispo, houvesse a intenção destas conversações servirem de meio para que as suas ideias fossem transmitidas a vós. Se nas cartas que tive a honra de vos escrever encontram-se propostas que não são referidas como tendo sido feitas pelo Bispo, tal se deve ao seu desejo de não se mencionar o seu nome para não se dar a entender que ele quer continuar à cabeça do Governo; mas o certo é que todas as propostas e observações foram sugeridas ou pelo próprio Bispo ou pelo seu secretário; e Vossa Excelência pode estar seguro que o Bispo não recebeu da minha parte qualquer insinuação que pudesse dar-lhe esperanças que vós ou o nosso Governo querem que ele continue à frente do Governo temporário.
É verdade (como tive a honra de vos referir na minha carta de 18 de Agosto) que não tinha quaisquer instruções para responder às primeiras comunicações do Bispo; e talvez ele tenha tomado em consideração se não seria mais aconselhável resignar no momento presente; mas eu estava então convencido que o Bispo era o único homem que tinha alguma influência sobre a mente deste povo inculto, que estava num estado de revolução; e considerei que a mera ideia do Governo ser retirado do homem que o povo tinha escolhido para seu líder, poderia conduzir às mais fatais consequências para a causa comum. Tinha todas as razões para me esforçar em ganhar a confiança do Bispo, e não poderia, por isso, de deixar de vos transmitir os seus desejos; e, além do mais, ao não ter eu assumido qualquer autoridade, ficou completamente nas vossas mãos agirdes segundo a vossa vontade. As brilhantes façanhas do exército debaixo do comando de Vossa Excelência alteraram bastante o estado das circunstâncias. A ordem pode agora ser facilmente restaurada, ao passo que tal seria difícil enquanto o país fosse um teatro de guerra; e a necessidade de obedecer, pelo menos aparentemente, à vontade do povo que tomou as armas, ficou certamente removida em grande parte.
Ao ter o Bispo declarado que não pode deixar o Porto, e, portanto, que não pode fazer parte do Governo se o assento deste não for transferido para esta cidade, fica completamente nas mãos de Vossa Excelência a justa pretensão de se excluir o Bispo do Governo; dando o Governo à antiga Regência ou àqueles membros da mesma que achardes mais próprios. Peço licença para acrescentar que, desde há uns dias, o Bispo parece estar consciente de que o assento do Governo não será transferido para esta cidade, e que, consequentemente, deverá resignar. Apesar de não o conhecer suficientemente para formar uma opinião decidida, ainda assim atrevo-me a dizer que ele está muito ligado aos interesses do seu Soberano para usar a sua grande influência contra o Governo que Vossa Excelência achar que será o mais próprio para se nomear, com a excepção de diversos membros da antiga Regência, que ele acusa de serem do partido francês.

Brigadeiro General