quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Carta do Tenente-Coronel Nicholas Trant ao General Bernardim Freire de Andrade (1 de Setembro de 1808)


Quartel-General da Encarnação, 1.º de Setembro de 1808.



Meu General:


As ordens que recebi, para fazer recuar ao vosso Corpo de Exército o Destacamento português que serviu debaixo do meu comando na campanha que acaba de terminar, indicavam-me para ficar junto do vosso Quartel-General, a fim de o apresentar. Porém, penso que o objecto dessa instrução dirigia-se mais imediatamente às operações hostis que poderiam ainda fazer-se na nossa aproximação a Lisboa.
Estando neste momento as coisas terminadas do melhor modo, peço-vos para acreditardes nas garantias do meu reconhecimento pela maneira honesta como me haveis recebido quando regressei para o pé de vós, e ao mesmo tempo para vos persuadirdes que caso surja uma ocasião para vos acompanhar mais uma vez à guerra, encontrar-me-eis sempre às vossas ordens.
Aguardo partir para a Inglaterra, porque a minha missão em Portugal chegou ao fim, e devo necessariamente regressar aos meus deveres oficiais no Quartel-General do Duque de York, onde o meu emprego ainda me está reservado.
Pretendo assim, meu General, deixar o vosso Exército amanhã, se não houver nada em que ainda possa ser útil.
Ainda que o comando que me haveis confiado da Brigada que recuei para aqui me tenha lisonjeado tanto quanto o mérito dela própria, apenas me poderia aplicar a permanecer ao seu comando se houvesse mais alguma oportunidade para a conduzir em ocasiões de actividade.
Devido à crise actual, é bastante provável que enviareis esse Destacamento das vossas Tropas para a Espanha; nesse caso, nada me daria mais honra do que ter debaixo das minhas ordens três ou quatro dos vossos Batalhões, e não hesitaria em marchar amanhã.
Não pediria mais dinheiro, senão somente a distinção militar que o comando exige, pois não me sentiria senão bastante lisonjeado por ter debaixo das minhas ordens umas Tropas que, apesar das desvantagens [derivadas das posições] onde foram colocadas, como [se fossem] novos recrutas, a boa vontade e a conduta geral, tanto delas como de toda a restante Nação, são por mim estimadas.
Tenho a honra de ser, General, vosso muito devotado e fiel servidor.


Trant


[Fonte: Luís Henrique Pacheco Simões (org.), "Serie chronologica da correspondencia diplomatica militar mais importante do General Bernardim Freire de Andrade, Commandante em Chefe do Exercito Portuguez destinado ao resgate de Lisboa com a Junta Provisional do Governo Supremo estabelecido na cidade do Porto e o Quartel General do Exercito Auxiliar de S. Magestade Britanica em Portugal", in Boletim do Arquivo Histórico Militar - Vol. I, Lisboa, 1930, pp. 153-227, p. 225 (doc. 58)].