Esta gravura foi publicada na Inglaterra em Setembro de 1808, tratando-se de uma das muitas sátiras coetâneas sobre o início dos desaires dos franceses na Espanha. A caricatura que encabeça a folha alude à saída apressada de Madrid, por parte do exército napoleónico (ao fundo) e de José Bonaparte (em primeiro plano), depois da tomada de conhecimento das vitórias espanholas dos Generais Castaños e Blake em Bailén. Como noutras caricaturas publicadas na mesma época, José Bonaparte perde a coroa de Espanha nesta fuga, embora mantenha consigo vários objectos religiosos roubados. Da boca de um dos Generais (vestidos como nobres espanhóis) que seguem no encalce do novo monarca sai a seguinte frase latina: Non fuit Autolyci tam piceata manus ["Nem Autólico tinha tal mão de gatuno"]. Trata-se duma expressão atribuída ao poeta latino Marcial, referindo-se a Autólico, que, na mitologia grega, era filho de Hermes, e, como o seu pai, famoso em todas as artes da fraude e do roubo.
A ilustração é procedida pelos versos duma "balada", que, como o título indica, deveria ser cantada ao som duma suposta música intitulada Beat the knave out of doors. Ora, esta expressão, que na verdade era o nome dum antigo jogo de cartas, significa literalmente Expulsar/retirar o valete para fora, para além de ter outros significados possíveis: dar batida ao patife; provocar a retirada apressada do patife; levar a melhor sobre o patife; expulsar o patife à pancada; bater no patife na rua; remover o patife para o exterior, etc. Deve notar-se ainda que o termo knave tanto significa valete como patife, como ainda criado (neste caso, de Napoleão). Alguns destes significados estão presente tanto na ilustração como na tradução livre que fizemos dos versos originais, que contudo não permite reproduzir as rimas originais dos versos (AABCCB).
José em perigo, na última cena da Pantomima Real, em Madrid. Uma balada novinha em folha, ao som de "Beat the knave out of doors" | |
A toda a pressa para Madrid José Bonaparte viajou; E quando entrou na cidade Vigorosamente berrou: Dizei aos vossos Bourbons boa noite! Eles cederam o seu Direito A Napoleão: Para que lado o vento está Claramente podeis ver, Pois Napoleão deu-o a mim: Sou, assim, Zé, Rei da Espanha e das Índias». «Se fostes convocado pela Providência Para reinar sobre o nosso Reino da Espanha, mostrai-nos a sua autorização», Exclamaram os espanhóis - «Visto que, Zé, se nenhuma podeis mostrar, Regressareis sem cumprir a vossa missão». Tão inflexíveis pareciam ambos os Dons, Que Zé concluiu que era tempo de ir embora; e, pronto para partir, Pensou ele: aqui vou eu, Estou em forma; deveis saber, Sou irmão-rendido do grande Bonaparte. | Filho de peixe sabe nadar, E, assim, forçou todos os cadeados, Roubou o alcaçuz do palácio; Roubou as Igrejas para o butim; Bem sabia ele como fazê-lo, Tendo durante tantos anos roubado os patíbulos. O seu zelo em despojar A prata e ouro dos espanhóis Não poupou nem as suas refeições nem as suas bolsas; Se os dentes das suas cabeças Fossem feitos daqueles metais, Todos furtaria Zé das suas dentaduras. Assustado, então regressou, Para Bayonne debandou Como um cão cuja cauda foi chamuscada; Pois Castaños e Blake Perseguiram de perto o seu rastro, Determinados a dar-lhe uma carga de pancada. Mas Zé não receia o chicote Desde que deles escapou; Pois a sua pressa, como a sua coragem, era grande: E, tendo entretanto sido privado da Coroa Nesta corrida celebrada, Zé jura que veio pela Prata. |
Apologia do Rei José Bonaparte aos espanhóis (no fim do seu Reinado de Sete Dias) sobre a sua fuga de Madrid com as pilhagens do Palácio e Igrejas, etc. Se na breve Pantomima tive uma má actuação Enquanto fiz de Rei no seu trono, Pois essa personagem, Senhores, era a minha própria. |