quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Diário do General John Moore (8 de Setembro de 1808)



Paço de Arcos, 8 de Setembro de 1808.


No dia 5, todo o exército marchou em diversas colunas e tomou esta posição, com a ala direita sobre o mar junto a este lugar, estendendo-se o centro ao longo duma ravina íngreme e acidentada até onde a mesma termina, e onde está postado o corpo do Major-General Paget. Em geral, as tropas formam uma longa linha, com grandes intervalos entre as divisões. O exército reunido nesta posição está dividido, de acordo com a nova organização, em quatro divisões, cada uma delas comandada por um Tenente-General, ademais dum Corpo Ligeiro, comandando pelo Major-General Paget, e dum corpo chamado de Reserva, comandado pelo Major-General Spencer. A cavalaria é comandada pelo Brigadeiro-General Charles Stewart; a divisão de Sir Arthur Wellesley está no outro lado de Lisboa. Desembarcaram-se as tendas, e agora, pela primeira vez desde que desembarcaram, as tropas estão abrigadas. Estamos a cerca de seis milhas de Lisboa, e os navios de guerra e os transportes estão no porto. A confusão que existe nos diferentes departamentos excede tudo o que já tinha testemunhado.
Sir Hew, como nunca teve experiência de comando, parece muito desorientado em relação à forma como deve trabalhar com os diferentes chefes dos departamentos; e a tropa sofre. Entretanto, ele está ocupado com a sua correspondência com o Governo, com os portugueses, e com os franceses, que têm dado grandes problemas aos Comissários [Proby e Beresford] enviados a Lisboa para supervisionar a execução do tratado, devido à sua má fé e às suas disposições astutas, que, se não lhes eram naturais antes da Revolução, têm sido características suas desde então. Quando ontem conversei com Sir Hew, este falou-me sobre o que poderão ser as nossas operações futuras. Mostrou-me um ofício de Lord Castlereagh, que, como é habitual, era um palavreado sem sentido aparente, propondo que os britânicos deveriam agir, como ele dizia, sobre o flanco e retaguarda dos franceses de Santander a Gijón, enquanto os espanhóis os pressionariam pela frente. Este é um tipo de linguagem sem nexo utilizado por homens que, nos seus escritórios, supõem ser militares, mas que não sabem até que ponto tais medidas são susceptíveis de ser postas em prática. Parece que os nossos ministros não têm comunicado com os líderes na Espanha, nem estão informados sobre os seus recursos ou planos. Sem um conhecimento disto, e sem uma combinação com os espanhóis, não posso ver como é possível determinar onde e como vamos agir.