domingo, 28 de agosto de 2011

Diário do General John Moore (28 de Agosto de 1808)



Vimeiro, 28 de Agosto.


Cheguei à Ericeira na manhã do dia 24, onde encontrei o [navio] Alfred, comandado pelo Capitão Bligh, com alguns transportes fundeados. Através do Capitão Bligh fui informado que o exército [britânico] tinha marchado para a Batalha, a cerca de onze milhas dali, na estrada para Torres Vedras, e que os franceses tinham atacado o exército, no dia 21, no Vimeiro, onde foram completamente derrotados. Sir Harry Burrard desembarcou durante a acção, e Sir Hew Dalrymple chegou no dia seguinte.
Desembarquei e vi o General Brigadeiro Crauford, que tinha ficado para trás com a sua brigada quando o exército empreendeu a sua marcha dois dias depois da acção. Através dele recebi uma ordem de Sir Hew para desembarcar as tropas debaixo do meu comando e dirigir-me pessoalmente até ele, que estava ansioso por me ver. Um dia depois da acção do dia 21, veio o General Kellermann com uma bandeira de tréguas da parte do General Junot, com uma oferta para fazer um tratado, acordando-se então uma suspensão de armas.
Geralmente, a arrebentação desta costa é grande, por não haver parte alguma protegida dos ventos de oeste, e só ocasionalmente é que se pode fazer um desembarque. Deixei ordens com o General Fraser relativas ao desembarque das tropas, etc., quando o tempo o permitisse, e desembarquei no dia 25 com o General Hope, tendo dirigido-me com ele ao Quartel-General, onde cheguei na tarde. Fiquei triste por encontrar tudo na maior confusão, existindo um geral e grande descontentamento. Sir Hew, embora já tivesse sido anunciado ao exército [como General em Chefe do mesmo], ainda não tinha tomado o seu comando; muito continuava a ser feito por Sir Arthur Wellesley, e o que não era feito por ele pura e simplesmente não se fazia. A acção do dia 21 tinha sido bastante bem concluída; os franceses atacaram o nosso centro e esquerda e foram completamente derrotados. Supõe-se que a sua força seria entre 12.000 a 13.000 homens, enquanto que a nossa seria cerca de 17.000 ou 18.000. As nossas baixas alcançam o número de cerca de 800 mortos e feridos; supõe-se que os franceses perderam cerca de 2.000.
Sir Arthur tinha a intenção de persegui-los, em cujo caso creio que estaria em Lisboa no dia seguinte; mas Sir Harry Burrard não o permitiu. Da mesma forma, Sir Harry Burrard impediu-o de atacar os franceses no dia seguinte em Torres Vedras. As considerações de Sir Arthur eram extremamente correctas em ambas as ocasiões; não dependia de nós a opinião de se combater ou não. Junot tinha marchado de Lisboa com a determinação de nos atacar; a questão resumia-se a atacar ou a ser atacado. Depois do sucesso do Vimeiro não restam dúvidas que os franceses deviam ter sido perseguidos. Várias das nossas brigadas não entraram na acção; as nossas tropas estavam bastante animadas, e os franceses estavam tão abatidos que provavelmente teriam fugido. De vinte e três peças de canhão tomámos-lhes quinze.
Junot pedia a condição dos franceses não serem considerados prisioneiros de guerra e de embarcarem com armas e bagagens para a França. Estipulava-se algo sobre a frota russa no Tejo, mas tal foi recusado, porque não se admitiu que os franceses tivessem direito algum a negociar pelos russos. O nosso Almirante, Sir Charles Cotton, seria quem negociaria com o Almirante russo. Junot concordou com isto, e espero que as negociação terminarão favoravelmente. É evidente que se alguma operação for levada a cabo relativamente a este assunto, será miseravelmente conduzida, e que a Lista dos oficiais mais antigos do Exército é um mau guia para a escolha dum comandante militar. Parece que Sir Arthur Wellesley conduziu as suas operações com uma grande habilidade, e que estas foram coroadas com sucesso. É pena, quando tanto foi feito pelas suas mãos, que não se tenha permitido que ele o conclua, sendo até certo ponto absurda a conduta do Governo nesta ocasião. Referi, tanto a Sir Hew como a Sir Arthur, que não queria interferir; que se as hostilidades recomeçassem, Sir Arthur já tinha feito tanto, que julgava que seria justo que ele devia ter o comando até um brilhante final. Renunciei a todas pretensões da minha antiguidade. Considerei que esta expedição é sua. Ele deve ter o comando para o qual foi destacado. Pela parte que me toca, queria poder afastar-me de tudo isto; mas devo ajudar tanto quanto possa a bem do serviço, e, sem interferir com Sir Arthur, deverei tomar qualquer parte que me for atribuída.