sábado, 11 de junho de 2011

Ordem do dia de Junot sobre o aprisionamento das tropas espanholas (11 de Junho de 1808)





Exército de Portugal

Ordem do Dia 



Ordem do Dia do Exército de Portugal


Soldados, 

A conduta infame do General espanhol Belestá no Porto; o roubo das peças do General de Divisão Quesnel; do senhor Taboureau, Auditor do Conselho de Estado; do Coronel de Artilharia Picoteau; e doutros indivíduos militares ou civis; assim como de um Destacamento de Dragões; a revolta do Regimento dos Caçadores de Valença; e a do Regimento de Múrcia; a detenção, enfim, de muitos dos meus Oficiais em Ciudad Rodrigo e Badajoz, e a impossibilidade em que se viam os senhores Oficiais espanhóis de conter os seus Regimentos:
Todas estas razões me determinaram abraçar o severo partido de desarmar os Regimentos espanhóis que ainda estavam debaixo das minhas ordens. 
Felizmente se conseguiu fazer este desarmamento sem que se derramasse sangue: nós não somos inimigos dos Soldados espanhóis que nós temos desarmado; e o meu coração repugnava a uma medida, que só tinha feito executar, obrigado da necessidade, para nossa própria segurança. Os Oficiais espanhóis conservaram suas armas: Eu determinei que as Bandeiras fossem entregues aos seus Batalhões. Ser-lhes-ão pagos os soldos; fornecer-se-lhes-ão víveres, como até agora; sua actual posição em nada mudará minhas boas disposições a seu respeito. 
Soldados, eu estou satisfeito da maneira com que vos tendes conduzido: eu tenho visto com prazer o vosso sossego e a vossa tranquilidade: se os ingleses querem agora atacar-nos, nós estamos sós para recebê-los. 
VIVA O IMPERADOR NAPOLEÃO!
Dado no Palácio do Quartel-General de Lisboa, 11 de Junho de 1808 

Assinado: O DUQUE DE ABRANTES 


Soldados!

O comportamento infame do General espanhol Belestá, no Porto; a violência com que se lançou mão do General de Divisão Quesnel; de mr. Taboureau, Auditor do Conselho de Estado; do Coronel de artilharia Picoteau; e de vários outros indivíduos militares ou civis, como também de um destacamento de dragões; a revolta do regimento de caçadores de Valença, a do regimento de Múrcia; finalmente, a prisão de vários dos meus Oficiais em Ciudad Rodrigo e em Badajoz, e a impossibilidade em que estavam os Oficiais espanhóis de ter mãos nos seus regimentos:
Todas estas razões me determinaram a tomar o violento partido de desarmar os regimentos espanhóis que ainda ficavam debaixo das minhas ordens. 
Este desarmamento se fez felizmente sem efusão de sangue. Nós não somos inimigos dos soldados espanhóis que havemos desarmado; só por necessidade e por nossa própria segurança é que eu mandei executar uma medida que repugnava ao meu coração. Os Oficiais espanhóis conservam as suas armas; e eu ordenei que as Bandeiras se entregassem aos próprios batalhões. O soldo lhes será pago, e os víveres fornecidos como dantes se praticava. A sua situação actual não fará mudança alguma na boa disposição em que estou para com eles. 
Soldados, satisfeito estou do modo com que vos haveis comportado; e tenho visto com prazer a vossa quietação e tranquilidade. Se os ingleses quiserem agora vir ter connosco, achar-nos-ão de todo prontos a arrostá-los. 
Viva o Imperador NAPOLEÃO! 
Dado no Palácio do Quartel-General, em Lisboa, a 11 de Junho de 1808 

(Assinado) O DUQUE DE ABRANTES 




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Observações:

Transcrevemos aqui duas versões desta ordem do dia (ver a este respeito o que comentou Acúrsio das Neves): 
- à esquerda, a que foi publicada por editais em todo o país [Fonte: Alberto Iria, A Invasão de Junot no Algarve (Subsídios para a História da Guerra Peninsular), Lisboa, Tip. Inácio Pereira Rosa, 1941, p. 358 (Doc. 38)].
- à direita, a versão corrigida, conforme foi publicada na Gazeta de Lisboa [Fonte: 2.º Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 23, 11 de Junho de 1808].

Deve-se notar que, apesar de pública, esta ordem do dia era dirigida ao "Exército de Portugal", ou seja, à Armée de Portugal, nome que entretanto tinha adoptado o originalmente chamado (primeiro) Corpo de Observação da Gironda, comandado por Junot (não confundir com o segundo corpo do mesmo nome, comandado por Dupont). O exército português propriamente dito tinha deixado de existir depois de Junot ter decretado o licenciamento e desmobilização da sua maior parte (e enviado cerca de 10.000 soldados portugueses para a França), apesar do mesmo General se ter visto obrigado a conservar algumas tropas portuguesas em zonas onde o número de militares franceses era reduzido ou inexistente. Era por exemplo o caso do Algarve, que apesar de contar com cerca de 900 franceses aquando da publicação da ordem do dia transcrita, mantinha activo (embora muito provavelmente não na totalidade) o Regimento de Artilharia n.º 2 (que guarnecia as fortificações costeiras da província).