sábado, 2 de julho de 2011

Carta do Bispo do Algarve ao Príncipe Regente (2 de Julho de 1808)



Senhor: 

Com sumo gosto vou eu e todo o meu clero, fiéis vassalos de Vosssa Alteza Real, dar a Vossa Alteza Real os parabéns de vermos neste Algarve restabelecido de novo a Vossa Alteza Real no Régio Trono português, que um inimigo astuto e traidor queria usurpar, e de que injustamente queria privar a Vossa Alteza Real. O povo de Olhão, e logo o desta capital de Faro, levantou a voz e pegou das armas para sacudir o jugo tirânico; e uniformemente clamámos: Viva o Príncipe Regente de Portugal Nosso Senhor; Viva a Real Casa de Bragança; Viva Portugal! O eco dos nossos vivas soou por todo o Algarve, que logo, a uma voz, se declarou fiel a Vossa Alteza Real. Assim o possa fazer também a capital e mais províncias do Reino de Portugal! E queira Deus que possamos levar ao fim o bem que com o seu manifesto auxílio principiámos! O inimigo, confuso e aterrado, ou fugiu, ou ficou prisioneiro com o seu General [Maurin]. Agora, como sei que a Junta provisional e interina do Governo, a quem preside o Conde Monteiro Mor, manda um Deputado [Manuel Martins Garrocho] a dar esta fausta notícia a Vossa Alteza Real, me aproveito desta oportunidade para certificar a Vossa Alteza Real que assim eu como o meu Cabido e todo o Clero deste Bispado (que todo pegou em armas para defesa da Religião e da Coroa) estamos cheios de sumo contentamento por termos de novo aclamado a Vossa Alteza Real por nosso legítimo Soberano, de que damos a Deus infinitas graças, como autor de todo o bem. E depois de adorarmos a Deus prostrados em espírito por terra, beijamos a Régia Mão de Vossa Alteza Real e da Augusta Rainha nossa Soberana com a submissão de fiéis vassalos, e ficamos rogando a Deus que guarde a Vossa Alteza Real por muitos anos. 
Faro, 2 de Julho de 1808. 

Francisco, Bispo do Algarve 

[Fonte: Alberto Iria, A Invasão de Junot no Algarve, Lisboa, 1941, s. ed., pp. 389-390 (Doc. 87); Corrigimos alguns passos de acordo com uma reprodução fac-simile do manuscrito original, disponível no livro de Adérito Fernandes Vaz, As Navegações dos Olhanenses em Caíque e a 1.ª Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e nacional, Olhão, Elos Clube de Olhão, 2008, pp. 132-134].