terça-feira, 14 de junho de 2011

Carta do Vice-Almirante Collingwood ao General Dalrymple, Governador de Gibraltar (14 de Junho de 1808)



Ocean, na barra de Cádis, 14 de Junho de 1808


Meu caro Senhor:

Recebi o obséquio das vossas cartas dos passados dias 11 e 12, informando-me a primeira da requisição que foi feita pelo General Castaños, e a outra incluindo a cópia duma carta do General Spencer.
Quando a vossa carta chegou, as tropas estavam prestes a partir para oeste, em direcção a Ayamonte, conforme a requisição que o governador espanhol fez ao General Spencer, um dia ou dois antes, para se encarar e prevenir a aproximação a Sevilha de um destacamento do exército francês, que se dizia estar a marchar de Portugal, pela costa.
Mandei parar os preparativos para partir, até que o General [Spencer] me informasse se a sua resolução era prosseguir como originalmente intencionava; e vereis na carta (que vai incluída) as razões que ele dava para que o seu plano não fosse alterado; e o Coronel Bathurst, portador da dita carta, ponderou melhor nas prováveis consequências de se tomar uma posição em Jerez; sobretudo que, perante qualquer desastre do exército espanhol, que tornaria necessário que o mesmo tivesse de ser reforçado, os ingleses seriam indubitavelmente chamados para acudir, tendo que se empregar completamente no serviço de campo, para o qual não estavam perfeitamente munidos, e se qualquer coisa acontecesse, o nosso exército associar-se-ia ao dos espanhóis; o que se desviava da linha que tinha sido dirigida pelas instruções dos ministros de Sua Majestade.
Senti que ele demonstrava um certo grau de frieza e até um pouco de ressentimento sempre que se fazia alguma menção ou alusão a colocarmos uma guarnição de tropas em Cádis; e creio que a única causa disto foi a aparição das tropas [espanholas] perante o porto, e a solicitação que foi feita ao pilotos para levarem os navios para dentro do abrigo do porto; e muito suspeito que a solicitação feita ao General Spencer para se dirigir com o seu corpo para Ayamonte foi mais com o objectivo de removê-los de diante de Cádis do que devido a algum receio do inimigo que eles tivessem naquela parte; pois dois deputados (um membro da Junta Supremo [de Sevilha] e um Contra-Almirante) que ontem foram enviados até aqui, informaram-me que as notícias que eles têm daquela parte eram vagas – elas vinham de uma zona suspeita – , e que eles próprios não acreditavam que os franceses estavam avançado, como se dizia. Se este for o caso, pergunto-vos, no caso das tropas de Spencer não acharem nada para ocupar o seu serviço, se não estariam melhor em Gibraltar, até que se determinasse a que ponto se devem dirigir; pois pairando sobre a costa, consumirão as suas provisões e água, e possivelmente, quando se quiser que partam, tenham que regressar a um porto para se abastecerem.
Havendo munido e apetrechado completamente as suas baterias, os espanhóis começar a abrir fogo sobre os navios franceses, que se renderam esta manhã, e que estão agora debaixo das cores espanholas; houve muito cuidado para não os danificar, o que os espanhóis dizem que foi feito para os preservar em condições de irem para a América, se fosse necessário.
Os vossos ofícios que trouxe partiram ontem para a Inglaterra na chalupa Alphea; e hoje espero os deputados para a Corte de Londres que irão no Alceste. Sendo o almirante um deles, não era conveniente que ele fosse antes dos navios franceses se renderem.
Tenho a honra de ser,
Caro Senhor,
Com a maior estima e consideração,
O vosso fiel e mais obediente servo,

Collingwood

[PS:] Tudo o que os espanhóis propõem é “por mañana” [sic], mas acabei de ser informado que os plenipotenciários não estarão preparados [para partir para a Inglaterra] antes de dois dias.

[Fonte: Memoir, written by General Sir Hew Dalrymple, Bart., of his proceedings as connected with the affairs of Spain, and the commencement of the Peninsular War, London, Thomas and William Bone Strand., 1830, pp. 227-229].