sexta-feira, 15 de julho de 2011

Carta de Lord Castlereagh, secretário de Estado da Guerra, ao General Wellesley (15 de Julho de 1808)




Downing Street, 15 de Julho de 1808 



Senhor: 

Desde que vos enviei os meus ofícios secretos datados de 30 do mês passado, assinalados com o n.º 1 e com o n.º 2, recebi a informação inclusa, da parte do Major General Spencer, em relação ao estado das forças do inimigo em Portugal
Como o número das tropas francesas que se encontra nos arredores de Lisboa (se esta informação for de confiança) parece ser muito mais considerável do que o que tinha sido referido anteriormente por Sir Charles Cotton, Sua Majestade deu ordens a um corpo de cinco mil homens, que consiste nos Regimentos mencionados na margem*, para embarcar e dirigir-se, sem perda de tempo, para a foz do Tejo, onde se reunirá convosco.
Sua Majestade também deu ordens para que as tropas comandadas pelo Tenente General John Moore, que chegaram do Báltico, se dirijam sem demora para a foz do Tejo, logo que se abasteçam de refrescos e provisões. 
As razões que motivaram a partida de tão grande força para aquela parte são as seguintes: 
Em primeiro lugar, providenciar adequadamente um ataque no Tejo; e em segundo lugar, dispor de uma força adicional, para além da que possa ser indispensável para essa operação, que eventualmente se separe para sul, quer com o objectivo de segurar Cádis, se fosse ameaçada pela força francesa comandada pelo General Dupont, quer para cooperar com as tropas espanholas para reduzir esse corpo, se as circunstâncias favorecerem tal operação, ou qualquer outra que possa ser combinada. 
Sua Majestade ordena que o ataque no Tejo deve ser considerado como o primeiro objectivo a ser atendido. Como toda a força (da qual vai anexa uma relação), quando estiver reunida, chegará a nada menos que 30.000 homens, é concebível que ambos os serviços possam ser amplamente cumpridos; a sua distribuição precisa, quer entre Portugal e a Andaluzia, quer pelo tempo e pela proporção da força conveniente, deve depender das circunstâncias, que serão julgadas no lugar; e considera-se aconselhável que se cumpra a garantia que o Tenente General Hew Dalrymple deu à Suprema Junta de Sevilha, debaixo da autoridade do meu ofício de 6 deste mês, ou seja, que Sua Majestade tinha a intenção de empregar um corpo de 10.000 homens das suas tropas para cooperar com os espanhóis naquela parte; espero que um corpo desta magnitude possa ser destacado sem prejudicar a operação principal contra o Tejo, e que se possa reforçá-lo depois que o Tejo esteja seguro; porém, se Cádis for seriamente ameaçada antes da chegada de toda a força vinda da Inglaterra, esse corpo deve ficar debaixo das ordens do oficial mais velho que estiver na foz do Tejo, para se separar, se se receber uma requisição para esse efeito, um número suficiente de forças para pôr este importante lugar fora do perigo imediato, mesmo que para isso se tenha que suspender, temporariamente, as operações contra o Tejo. 
Como a força que pode ser chamada para ir para o lado de Cádis requer somente o equipamento de campo, as munições de artilharia que foram enviadas com o objectivo de reduzir o Tejo ficarão nesta última paragem. 
Exceptuando as munições de artilharia enviadas para atacar os fortes nesse rio, não se considera necessário sobrecarregar o exército com um corpo maior de artilharia que o que pertence ao equipamento de campo, com a respectiva proporção de cavalos. 
Para além do período para o qual os navios de transporte estão providos, uma devida proporção de navios com provisões acompanhará o exército, os quais, juntamente com os eventuais abastecimentos que se espera que derivem das disposições e dos recursos do país, removerão, como se supõe, quaisquer dificuldades sobre este assunto, enquanto o exército continuar a agir perto da costa. 
Devido à grande demora e despesa que poderia ocorrer embarcando e enviando daqui todos aqueles meios que seriam necessários para tornar o exército completamente capaz de se mover assim que desembarcasse, o Governo de Sua Majestade determinou-se em confiar, em grande medida, nos abastecimentos provenientes dos recursos do país. 
Tudo leva a crer, pelo fervor dos habitantes quer da Espanha, quer de Portugal, que logo que o exército britânico se possa estabelecer em qualquer parte da costa, muitos estarão ansiosos para ser armados e ordenados em suporte da causa comum, e que se conseguirão obter todas as espécies de abastecimentos que o país produz para subsistir e equipar o exército; é portanto necessário, em primeiro lugar (se um ataque directo e imediato sobre as defesas do Tejo não puder ser concretizado prudentemente), que o exército britânico ocupe uma parte da costa entre Peniche e Setúbal, respectivamente a norte e a sul desse rio, na qual possa abrir com segurança comunicações com o interior, e a partir da qual possa posteriormente marchar contra o inimigo, esforçando-se, se possível, não só para o expulsar de Lisboa, mas para cortar a sua retirada para a Espanha. 
Logo que os meios de transporte existam, uma proporção de cavalaria acompanhará as tropas, que podem ser posteriormente reforçadas de acordo com as circunstâncias. 
Tenho a honra de ser, etc. 

Castlereagh


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Nota: 


* Castlereagh refere-se às forças que estavam prestes a partir dos portos ingleses de Ramsgate e Harwich